domingo, 25 de dezembro de 2011

Homilia da Missa do Dia de Natal (Luso e Pampilhosa)

MISSA DIA DE NATAL
25.12.2011

«N’ Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens» (Jo. 1, 4)

Introdução

O mistério de Natal, na multiplicidade das suas celebrações – especialmente a Missa da noite e a Missa do dia – permite-nos contemplar a dupla dimensão do mistério da encarnação do Verbo de Deus – a Sua humanidade e a Sua divindade, sem que se distinga o «acontecimento único e absolutamente singular da Encarnação do Filho de Deus» (cf. CIC. 464). Como bem diz o Catecismo da Igreja Católica, «Ele fez-se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem» (CIC. 464); ou seja, «É verdadeiramente o Filho de Deus, feito homem, nosso irmão, e isso sem deixar de ser Deus, nosso Senhor» (CIC. 469). Mas, na pedagogia litúrgica, se ontem o nosso olhar se detinha na humanidade do Verbo da vida, hoje permite-nos contemplar, de modo especial, o mistério divino d’ Aquele que se fez carne no meio de nós – aquele que sendo da natureza do Pai e que com Ele existia, «habitou no meio de nós» (cf. Jo. 1,14). São João e a Carta aos Hebreus – a segunda leitura de hoje – deixam-nos entrever este mistério da preexistência do Verbo da vida, que, sendo um com o Pai, esteve na origem de todas as coisas, pois por Ele tudo foi feito e «sem Ele nada foi feito» (cf. Evangelho).
Por isso Ele é a vida, pois que é um com o Pai e a manifestação plena do Seu amor pelos homens. A vida que Jesus nos comunica é essa mesma vida do Pai, de que Ele participa na condição de Filho. Ora, ao fazer-se carne - o mesmo é dizer, ao fazer-se homem – esta vida revelada torna-se a luz dos homens. Isto é, mediante a Sua Encarnação, Jesus Cristo manifesta-nos o sentido pleno da nossa existência e rasga horizontes de plenitude que nada, nem ninguém mais, nos podem oferecer, porque nos oferece a vida que provém de Deus que é Pai, de que Ele é participante e que agora plenamente se nos manifesta. Neste sentido, N’Ele está a plenitude da vida; realidade que se torna a luz verdadeira para todos os homens. Mas o acolhimento da vida doada em Jesus Cristo pressupõe, da nossa parte, uma adesão livre e consciente – um verdadeiro acto de fé – que, na nossa liberdade, pode ser também de recusa. E é para aí que nos remete a continuação do Evangelho de hoje. Centremo-nos em três das afirmações que são bem expressivas do convite que nos é formulado pelo evangelista João.

1. «Os seus não o receberam» (Jo. 1, 11)

Se esta referência de João nos permite olhar para a Igreja nascente e para a recusa dos
judeus em acolher o Verbo de Deus, não deixa de nos questionar sobre o presente da nossa história e sobre a recusa de tantos irmãos nossos em acolher o Verbo da Vida. De igual modo, permite-nos compreender que também nós recusamos o Verbo de Deus quando d’Ele nos afastamos, seguindo critérios de vivência pessoal que se distanciam da Sua Pessoa e da Sua palavra. Com a expressão «agnosticismo», hoje tão presente na linguagem de alguns, particularmente de jovens e de jovens adultos, indica-se a falta de conhecimento ou, mais propriamente, «uma impossibilidade de conhecer» o mistério de Deus. Ora, com a Encarnação do Verbo, é Deus quem se dá a conhecer; é Ele mesmo quem se revela na nossa história e se faz próximo de cada um de nós. Assim, conhecê-Lo não é já uma impossibilidade, mas um dom que
a todos é oferecido. Basta, para tanto, que nos abramos, na simplicidade do coração, à revelação que continua mediante o Espírito e a acção confiada à missão própria da Sua Igreja. Afinal, o Deus Menino feito carne, no meio de nós, é o Senhor Vivo e Ressuscitado, que a todos ilumina e conduz à plenitude da vida. Mas, nas nossas comunidades cristãs, a predominância pode ser a de um denominado «agnosticismo prático», ou seja, tendo tido a possibilidade de conhecer o mistério de Deus revelado, muitos optam por viver à margem de Deus e da Sua palavra. De algum modo, uma existência humana vivida como se Deus não fosse importante, particularmente
numa sociedade de onde Ele parece estar cada vez mais ausente. O que compreende um drama humano, pois a vida deixa de ter sentido, sendo vivida – como refere o Cardeal Paul Poupard – «sem transcendência», de «uma maneira efémera», algo sem continuidade, feita da simples soma de alguns momentos, o que gera, consequentemente, a ausência de um verdadeiro futuro.
Este modo de viver, sem referência a Deus e à Sua palavra, revelada no Deus Menino, tem ainda como consequência uma verdadeira falta de humanidade, daquela humanidade que Ele, na sua Encarnação, nos revelou. Daí o drama profundo de vidas dissipadas pelos mais diversos
vícios humanos, ou manipuladas por interesses imediatos, tantas vezes espelhados nos grandes dramas pessoais e sociais com que nos confrontamos em cada dia, nomeadamente através da multiplicidade de meios de comunicação social.
Mas também nós, cristãos, nos poderemos manter na recusa em recebê-Lo se os nossos critérios pessoais assentarem na vivência egoísta da vida, no conflito, nalguma forma de exploração dos outros – pela falta de verdade ou de honestidade – ou simplesmente pela incapacidade de acolher mais profundamente a luz que o Verbo eterno nos revela na sua perene misericórdia.
Na verdade, contudo, a todos Jesus se oferece como a Palavra definitiva – o Verbo – do Pai, expressão plena do Seu amor para connosco. Uma palavra próxima, que partilha a nossa história e lhe rasga um sentido radicalmente novo, dizendo-nos quem Deus é para nós e quem nós somos para Ele.

2. «Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo. 1, 12)

Receber Jesus e aceitá-Lo pressupõe um verdadeiro acto de fé; isto é, o assentimento livre a Deus revelador, que, na riqueza do Seu amor, «fala aos homens como amigos e convive com eles, para os admitir à comunhão com Ele» (cf. CIC. 142). A obediência da fé - «submissão livre à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade» (CIC. 144) – é condição para partilharmos a vida de filhos no Filho; herdeiros, com Ele, da plenitude da vida que Ele nos oferece pela Sua Encarnação, Morte e Ressurreição. Na verdade, Jesus fez-se carne, no meio de nós, para «nos tornar participantes da Sua natureza divina» (CIC. 460). Assim
compreendemos a expressão de João: «deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo. 1, 12). Esta realidade, que é sempre primeiramente iniciativa de Deus (cf. CIC. 51 – 52; 458), que deseja «que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tm. 2, 4), pressupõe então esta livre adesão do homem a Deus e assentimento à verdade por Ele revelada (cf.CIC. 150), cuja expressão plena se encontra na revelação do Filho, feito homem no meio de nós (cf. 2ª Leitura), «a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai» (CIC. 65). E a consequência, como se referiu já, é a nossa própria filiação divina. A graça de nos tornarmos deuses, como referem os padres da Igreja, mormente Santo Atanásio e São Tomás que, respectivamente, o afirmam: «Porque o filho de Deus fez-se homem, para nos fazer deuses» e ainda «o Filho
Unigénito de Deus, querendo que fôssemos participantes da Sua divindade, assumiu a nossa natureza para que, feito homem, fizesse os homens deuses» (CIC. 460). Esta é, com efeito, a graça maior que nos é concedida pela Encarnação de Cristo – a filiação divina.

3. «Foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça» (Jo. 1, 16)

Com esta expressão, por seu turno, João diz-nos claramente que a Antiga Aliança foi
suplantada pela Nova Aliança realizada em Jesus Cristo. É, uma vez mais, a afirmação de que pela participação da Sua vida nos foi concedido o dom pleno da condição de filhos.
Mas que outras graças recebemos nós pela Encarnação de Cristo? Deixemos que o Catecismo da Igreja Católica nos responda, ao propor-nos a meditação do que recitamos no Credo, quando afirmamos «por nós homens, e para nossa salvação, desceu dos céus, e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se fez homem» (cf. CIC. 456).
Antes de mais, o Verbo fez-se carne «para que assim conhecêssemos o amor de Deus: ‘Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o Seu Filho Unigénito, para que vivamos porEle’» (CIC. 458).
Logo depois, o Verbo fez-se carne «para ser o nosso modelo de santidade» (CIC. 459), segundo aquela palavra do próprio Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim» (Jo. 14, 6); ou ainda: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo. 15, 12),
significando que «este amor implica a oferta efectiva de nós mesmos» (CIC. 459) no seguimento de Jesus Cristo.
E, finalmente, para «nos tornar participantes da natureza divina» (CIC. 460) como anteriormente referimos, a que podemos acrescentar ainda o comentário de Santo Ireneu de Lião: «Pois por essa razão o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus se fez Filho do Homem: foi
para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a adopção divina, se tornasse filho de Deus» (CIC. 460).
Conclusão

A terminar, julgo que este é o momento oportuno – momento de graça – para compreendermos
profundamente o mistério do Verbo de Deus feito carne e de o testemunharmos a todos os nossos irmãos, com toda a força da nossa alma. Compreendermos, igualmente, a graça que nos foi dada mediante a plenitude do amor de Deus, realizada a nosso favor, fazendo de nós filhos no Seu Filho único, mediante a Sua encarnação.
Um forte convite, que nos responsabiliza, ainda, a vivermos como filhos da luz e herdeiros da vida, centrados em Cristo, nossa esperança, imitando-O na graça filial, na vivência da santidade e num permanente louvor ao Deus que é Pai e que no Seu Filho, nos encheu de todas «as bênçãos espirituais, nos céus» (Ef. 1, 3) e por Ele «nos predestinou para sermos seus filhos adoptivos, conforme o beneplácito da Sua vontade» (Ef. 1, 5).

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal de Sr. D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra


MENSAGEM DE NATAL

1. Natal de fé
A razão de ser da festa do Natal encontra-se na Pessoa de Jesus Cristo, Filho de Deus, incarnado no seio de Maria e nascido em Belém.
Enquanto cristãos, aprofundamos a consciência da fé que nos anima e procuramos dar sinais ao mundo de que ela nos fortalece em todos os momentos da vida, de sofrimento ou de consolação.
O presépio que fazemos nas nossas casas, nas igrejas e nos lugares públicos, não é somente o resultado de uma tradição cultural ou religiosa mas, na sua singeleza, é um sinal da fé na vinda ao mundo do Salvador.
Mais importante do que as tradições ligadas a esta quadra, e elas são muito ricas e expressivas entre nós, os cristãos hão-de privilegiar as atitudes de fé, que transformam a vida pessoal, familiar e social.

2. Natal de esperança
O natal de Jesus Cristo e o nosso natal é fonte da esperança mais autêntica, que não se baseia em realidades efémeras, mas em Deus, princípio de todas as coisas, e no Homem, criado para um futuro novo de glória.
As situações difíceis abundam e muitos homens e mulheres, nossos irmãos, são vítimas da ausência de razões para a esperança. A falta de condições materiais de vida afectam muitas famílias, que não podem ver um futuro sorridente e promissor para as crianças e os jovens. Os dramas humanos e espirituais sucedem-se e deixam prostradas muitas pessoas, que não têm as necessárias forças interiores para se levantarem e reanimarem.
A todos estes que, afinal, somos de algum modo, todos nós, o Natal convida a levantar a cabeça, e a contemplar o Emanuel, o Deus connosco, fonte de toda a esperança.

3. Natal de caridade
O nascimento de Jesus Cristo, juntamente com a Sua paixão e morte na cruz, constituem a grande revelação do amor de Deus para com a Humanidade. No modo de amar de Deus ganha nova luz todo o amor humano, a generosidade, a partilha. Em Jesus Cristo aprendemos os contornos da fraternidade mais radical, de quem dá o que tem e se dá a Si mesmo em favor dos irmãos.
Nos tempos difíceis em que vivemos, tem novas expressões a caridade de que o Natal é sempre mensageiro. A pobreza de muitas pessoas exige soluções que passam pelas mudanças estruturais da sociedade e pelo auxílio caritativo.
Que neste Natal, aprofundemos o sentido humano e cristão da fraternidade; procuremos mudar a nossa mentalidade egoísta; ensinemos às crianças e jovens a alegria de partilhar; abramo-nos a muitas iniciativas e campanhas de auxílio aos pobres.
Se nunca é lícito esbanjar, em tempos de fome e de pobreza à nossa porta, torna-se um ato ainda mais desumano. Haverá, por isso, um lugar privilegiado para a caridade pessoal e material, fruto de uma maior sobriedade nas festividades natalícias.
Um santo e feliz Natal!

Coimbra, 12 de Dezembro de 2011
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

NOTA PASTORAL SOBRE A SEMANA DOS SEMINÁRIOS

A Semana dos Seminários, de 6 a 13 de Novembro, traz à vida da Igreja Diocesana um dos mais importantes temas de reflexão, acção pastoral e oração: o sacerdócio ministerial. Jesus Cristo quis deixar-nos o grande dom dos sacerdotes que, agindo em profunda união com a Sua Pessoa, são intermediários insubstituíveis da acção santificadora da Igreja.
Os presbíteros em comunhão com o bispo recebem a missão inestimável de conduzir o Povo de Deus às fontes da salvação, por meio do anúncio da Palavra, da celebração dos sacramentos e enquanto vínculos de unidade das comunidades cristãs.
Os diáconos, disponíveis para o serviço da evangelização, da liturgia e da caridade, tornam-se cada vez mais sujeitos de uma vocação imprescindível à vida da Igreja, que, com eles, exprime melhor a riqueza do dom de Deus em favor do Seu Povo.
Nesta Semana dos Seminários, todos nós, diocesanos de Coimbra agradecemos ao Senhor da Messe a vida e acção de todos sacerdotes; agradecemos a Deus a possibilidade de celebrar a Eucaristia, fonte e cume de toda a vida da Igreja; agradecemos os seminaristas que se preparam para a recepção das Ordens Sacras e todos os que se dedicam ao trabalho de promoção
vocacional.
A causa das vocações sacerdotais é prioritária na Igreja Diocesana, uma vez que algumas comunidades paroquiais se encontram privadas da celebração regular da Eucaristia dominical e, por isso, impossibilitadas de aceder ao sacramento da comunhão com Cristo. Por isso, esta causa há-de estar presente como horizonte em todas as acções de ordem catequética, espiritual,
litúrgica e pastoral de todas as comunidades cristãs.
Peço encarecidamente aos presbíteros, diáconos, catequistas, animadores das comunidades, famílias e a todo o Povo de Deus, que se empenhem na oração e na acção pelo seminário, para que o Senhor da Messe encontre corações disponíveis para abraçar a vocação sacerdotal.
Bom seria que, de um modo mais intenso na Semana dos Seminários e regularmente ao longo de todo o ano, houvesse tempos de oração pelas vocações sacerdotais nas igrejas e capelas da Diocese de Coimbra: adoração semanal do Santíssimo Sacramento, vigílias de oração periodicamente, a oração diária do terço em comunidade e em família.
A Nossa Senhora, Mãe dos Sacerdotes, confio o cuidado pelas vocações sacerdotais na nossa diocese de Coimbra.

Coimbra,
1 de Novembro de 2011, Solenidade de Todos os Santos

Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PROGRAMA PASTORAL 2011 / 2012

Paróquias de
Luso e Pampilhosa

PROGRAMA PASTORAL
2011 /2012

«A PALAVRA DE DEUS É VIVA E EFICAZ» (Heb. 4,12)

INTRODUÇÃO

O presente ano pastoral de 2011 – 2012 terá como tema aglutinador a expressão, da Carta aos Hebreus, «A Palavra de Deus é viva e eficaz» (Heb. 4, 12). Pretende-se continuar o aprofundamento bíblico, na sequência do ano pastoral anterior. Esperando, agora, que a proposta pastoral tenha uma aceitação muito mais decidida, por parte das comunidades e de cada cristão, do que aquela que pudemos registar no ano pastoral anterior.

Sendo este o elemento central da acção pastoral – o aprofundamento Bíblico – não esgota, como é óbvio, toda a acção da Igreja, a nível das comunidades, que terá de continuar a centrar-se nas quatro dimensões que lhe são próprias: a catequese; a liturgia; o serviço da caridade; e a dinamização das estruturas de comunhão. Contudo, todos estes aspectos estruturantes da vida comunitária terão uma referência directa à proposta aglutinadora, a partir da qual se compreendem e se podem dinamizar.
De igual modo, na hora actual da Igreja Universal e da Igreja Diocesana, urge responder aos apelos da «Nova Evangelização», enquanto renovação da vida interior das comunidades paroquiais e abertura a um testemunho coerente no mundo, vivenciando o mandato missionário que Cristo confia à sua Igreja: «Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos» (Mt. 28, 19).
Servem de fundamento a esta planificação os documentos do Vaticano II, com destaque para a Dei Verbum; a Exortação Apostólica Pós – Sinodal A Palavra do Senhor, do Papa Bento XVI; o Catecismo da Igreja Católica; os Lineamenta do Sínodo dos Bispo de 2012; a comunicação do nosso bispo, nas Jornadas Pastorais do Clero, Possíveis caminhos para uma Nova Pastoral; o Décimo Segundo Sínodo Diocesano de Coimbra, de 1999; o livro Testemunha do Evangelho, do bispo espanhol D. Fernando Sebastián Aguilar[1]; e, de Enzo Bianchi, a Paróquia[2].

1. O tema do ano: «A Palavra de Deus é viva e eficaz» (Heb. 4,12).

1.1. Conteúdo

Com a expressão da Carta aos Hebreus «A Palavra de Deus é viva e eficaz» (Heb. 4, 12), pretendemos sublinhar os seguintes aspectos fundamentais, para a vida das comunidades cristãs:
a) A Palavra de Deus é o próprio Cristo feito carne no meio de nós, em cuja incarnação o Verbo eterno «transmite as palavras de Deus e consuma a obra de salvação que o Pai lhe confiou» (DV. 4). A palavra do Ressuscitado permanece na Igreja, pela força do Seu Espírito, convocando-nos a uma escuta profunda e consequente, na conformação com a sua pessoa e com a actualidade dessa mesma palavra.

b) A eficácia da palavra advém precisamente da força do Espírito que a torna eficaz na Igreja, seja na liturgia, na oração pessoal ou noutros momentos de meditação, permitindo que a sua escuta se transforme num verdadeiro «diálogo entre Deus e o homem» (DV. 25), mediante o qual nos tornamos capazes de falar com Ele e de O escutar com toda a profundidade da nossa alma (cf. DV. 25).

c) A escuta desta palavra deve conduzir-nos à verdade do testemunho cristão, para que todos nós, na diversidade de géneros de vida, de profissões e de carismas, guiados pelo mesmo Espírito de Deus e obedecendo à voz do Pai, sigamos a Cristo pobre, humilde e carregado com a cruz, para merecermos participar na Sua glória (cf. LG. 41). Também neste sentido a palavra é eficaz, permitindo a construção do Reino de Deus no mundo ao qual somos enviados.

Ora, para que esta palavra seja eficaz na vida de cada cristão, é necessário escutá-la e conhecê-la. Neste sentido, exorta o Concílio Vaticano II «a que todos os fiéis aprendam a maravilha que é o conhecimento de Jesus Cristo, com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque ‘desconhecer as escrituras é desconhecer Cristo’» (DV. 25). Para logo continuar: «Debrucem-se, pois, amorosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por cursos apropriados, quer ainda através de outros meios que em nossos dias, com a aprovação e estímulo dos Pastores da Igreja, se vão difundindo tão louvavelmente por toda a parte» (DV. 25). E, na perspectiva da elaboração futura de um programa pastoral para a Diocese, é ainda o nosso Bispo quem nos convida a trilhar este mesmo caminho, ao referir: «É necessário implementar um sério conhecimento da Sagrada Escritura, como Palavra de Deus que, juntamente com a Eucaristia, é o alimento de Deus para a sua Igreja. Não se pode fazer a nova evangelização sem propor aos cristãos a leitura, meditação e oração a partir da Palavra de Deus, tanto individualmente, como em família ou na comunidade cristã»[3]. Para logo continuar: «A leitura litúrgica, a celebração da Liturgia das Horas e a lectio divina, acompanhadas pelo estudo bíblico, são meios indispensáveis para o aprofundamento da fé»[4]. Concluindo, então: «temos de gastar muito tempo e energias a difundir entre os cristãos a prática da leitura orante da Bíblia»[5]. E é o próprio Concílio que, na alusão ao tema escolhido para este ano, nos ensina ainda: «É tão grande a força e a eficácia da palavra de Deus, que se torna o sustentáculo vigoroso da palavra da Igreja, fortaleza da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. Daí que se deva aplicar, por excelência, à Sagrada Escritura as palavras: a palavra de Deus é viva e eficaz (Heb. 4, 12), e tem poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados (Act. 20, 32)» (DV. 21).
Assim, o aprofundamento da Palavra de Deus, através da oração e do seu estudo, em ordem ao conhecimento das fontes da fé, ocupará um lugar privilegiado no ano pastoral que agora se inicia.

1.2. Objectivos

- Aprofundar o conhecimento Bíblico.
- Incrementar a vida cristã a partir da Lectio Divina (leitura orante da Bíblia).
- Valorizar o anúncio da Palavra em todos os âmbitos da vida comunitária.

1.3. Estratégias e recursos

- Formação de grupos de reflexão bíblica, na perspectiva da lectio divina – leitura orante da Bíblia[6].
- Revitalização dos grupos bíblicos, no Luso. Possibilidade de oração em pequenos grupos a partir da bíblia.
- Utilização dos livros: LA CASA DE LA BÍBLIA - O Tesouro do Escriba. Guia para uma leitura comunitária do Evangelho de São Mateus. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2007; Idem – o Verdadeiro Rosto de Jesus. Para uma leitura comunitária do Evangelho de São Marcos. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1996; Idem, Curso de Iniciação á Leitura da Bíblia. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1996. (Tradução do Pe. Idalino Simões).
- Uma especial atenção à preparação do anúncio da Palavra em todas as celebrações litúrgicas – Eucaristias; demais Sacramentos; Celebrações da Palavra.
- Especial atenção aos momentos de oração comum, antes ou no fim de cada reunião, com recurso contínuo à Palavra de Deus.

2. Nova Evangelização: «Novos cristãos, nova Igreja, nova cultura, nova sociedade»[7].

2.1. Conteúdo

A «Nova Evangelização» define-se, segundo a intuição do Papa João Paulo II, como «um meio de comunicação de forças com vista a um novo ardor missionário e evangelizador»[8]. É com este intuito que o Papa a refere, falando aos bispos da América Latina: «A comemoração do meio milénio de evangelização alcançará o seu significado pleno se for um compromisso vosso como bispos, juntamente com o vosso Presbitério e com os vossos fiéis; compromisso não certamente de reevangelização, mas de uma nova evangelização. Nova em seu ardor, em seus métodos, em suas expressões. Não se trata de fazer de novo qualquer coisa que foi mal feita ou que não funcionou, como se a nova acção fosse um implícito juízo sobre o falhanço da primeira. A nova evangelização não é uma duplicação da primeira, não é uma simples repetição, mas é a coragem de ousar novos caminhos, para atender às mudanças de condições dentro das quais a Igreja é chamada a viver hoje o anúncio do Evangelho»[9]. Continuando, refere o papa João Paulo II: «a nova evangelização é, antes de mais, uma acção espiritual; a capacidade de assumir, no presente, a coragem e a força dos primeiros cristãos, dos primeiros missionários. É, portanto, uma acção que requer, em primeiro lugar, um processo de discernimento acerca do estado de saúde do cristianismo, o reconhecimento das medidas tomadas e das dificuldades encontradas (…) [para] entrar numa nova etapa histórica do seu dinamismo missionário»[10].
Já D. Fernando Aguilar, na sequência desta proposta do sumo pontífice, a define como «novos cristãos, nova Igreja, nova cultura, nova sociedade. Um programa para muitos anos, para várias gerações. Mas competindo-nos a nós começar, pôr o rumo certo e assentar os fundamentos»[11].
Neste mesmo âmbito, o nosso bispo, recentemente, resumia também assim a sua vontade, no que se refere à acção pastoral na nossa diocese, para os próximos anos: «Gostaria que os próximos anos fossem essencialmente voltados para esta pastoral da fé, para a nova evangelização das comunidades, para o conhecimento de Jesus Cristo, para a adesão íntima e profunda a Ele»[12].
Ora, é este caminho, fundado na escuta profunda da Palavra de Deus que havemos de trilhar, em comunidades paroquias, obedientes à voz do Espírito, que nos fala mediante os pastores da Igreja que nos confirmam na fé. Esta «Nova Evangelização» compreenderá, portanto, simultaneamente a renovação pessoal de cada um e das comunidades, no encontro pessoal com Cristo, e o testemunho vivo do seu amor, de modo a que muitos outros se possam aproximar d’Ele, o único que tem palavras de «vida eterna» (Cf. Jo. 6, 68).

2.2. Objectivos

- Criar estruturas que permitam o anúncio do Evangelho noutros espaços que não apenas os habituais, no âmbito das paróquias.
- Sensibilizar as comunidades para a necessidade de assumir com um novo fôlego a missão primeira da Igreja: «Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc.16, 15).
- Cruzar o aprofundamento Bíblico com a urgência da missão eclesial.
- Incentivar os fiéis leigos a serem presença viva e actuante como testemunhas dos valores do Reino de Deus nas estruturas seculares.

2.3. Estratégias e recursos

- Pela sua complexidade, o novo dinamismo evangelizador necessita de estruturas provadas na sua eficácia. Assim, contactaremos com os Cursos Alfa, aprofundando a sua pedagogia, em ordem à acção missionária no contexto das comunidades cristãs.
- Envolver as comunidades cristãs no dinamismo evangelizador, integrando, se possível, células de evangelização, na linha do recurso acima indicado.
- Urge promover uma séria reflexão comunitária sobre a Gaudium et Spes do Vaticano II. Programaremos, oportunamente, uma reflexão / conferência sobre esta Constituição Conciliar. Esta iniciativa insere-se, ainda, nas celebrações dos cinquenta anos do Vaticano II.
- Aproveitando a experiência de formação Bíblica, consciencializar os fiéis que o compromisso cristão, que brota da relação com Deus, pressupõe sempre a missão.
- Por ocasião da preparação do Sínodo dos Bispos sobre «Nova Evangelização», propor às comunidades um espaço de reflexão sobre os grandes desafios que hoje se colocam à Igreja, presentes nos Lineamenta do Sínodo. Esta reflexão pode ser realizada no âmbito de uma conferência, com um especialista nesta área de acção pastoral.

[1] Cf. AGUILAR, D. Fernando Sebastián – Testemunha do Evangelho. Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 2005. (Tradução de Maria Armanda Saint- Maurice).
[2] Cf. BINACHI, Enzo e CORTI, Renato – A Paróquia. Prior Velho: Paulinas, 2006.
[3] D. Virgílio Antunes – Possíveis caminhos para uma Nova Pastoral. Policopiado. Coimbra, 29 de Setembro de 2011, p. 4. (Comunicação do Senhor Bispo no encerramento das Jornadas Pastorais do Clero, realizadas na Praia de Mira, a 28 e 29 de Outubro de 2011).
[4] Ibidem, p. 4.
[5] Ibidem, p. 4.
[6] Para ver o esquema da Lectio Divina consulte-se o livro: LA CASA DE LA BÍBLIA – Curso de Iniciação à Leitura da Bíblia. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1996, p. 29.
[7] AGUILAR, D. Fernando Sebastián – Testemunha do Evangelho, op. cit., p. 52
[8] Lineamenta do Sínodo dos Bispos de 2012, nº 5.
[9] Ibidem, nº 5.
[10] Ibidem, nº 5.
[11] AGUILAR, D. Fernando Sebastián – Testemunha do Evangelho, op. cit. p. 52. Cf. Ibidem, p. 98.
[12] ANTUNES, D. Virgílio do Nascimento – Possíveis caminhos para uma Nova Pastoral. Coimbra, 29 de Setembro de 2011, p. 4.
NOTA: Publica-se apenas a parte inicial (pontos 1 e 2); pela sua extensão ficam por publicar ainda o ponto 3 e 4 ( este último referente ao acompanhamento e avaliação da execução do Programa Pastoral. Algumas dificuldades com o blog não permitem a indicação devida das referências bibliográficas, mas que estão completas).

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Linhas de orientação para a vida da Diocese

Aqui estão as grandes linhas de orientação para a vida da Diocese, no futuro próximo, apresentadas pelo nosso Bispo, Senhor D. Virgílio Antunes:

POSSÍVEIS CAMINHOS PARA UMA NOVA PASTORAL


1. INTRODUÇÃO

Neste meu primeiro encontro convosco, o clero da diocese de Coimbra, desejo saudar-vos com afecto. Agradeço as manifestações de alegria e estima que tenho recebido da vossa parte e da parte de muitos religiosos e leigos de toda a Diocese. Peço a Deus que me ajude a uma configuração cada vez maior com Cristo, na missão de Pastor da Sua Igreja, que é esta diocese de Coimbra. Também vós, com certeza, lho pedis juntamente com as comunidades paroquiais a que presidis.

Estamos a iniciar um novo ano pastoral, que coincide com o início do ministério do novo bispo de Coimbra. Nestas circunstâncias há muitas ideias que andam no ar, muitas perspectivas que precisam de ser reflectidas e muitas opções que é urgente tomar. Peço-vos disponibilidade para juntos darmos lugar a essa reflexão e procurarmos colegialmente os melhores caminhos para a vida desta porção do Povo de Deus, entregue aos nossos cuidados pastorais. Estamos em tempos de muita exigência a todos os níveis e não podemos adiar os esforços de comunhão entre nós e com Cristo, a pedra angular que sustenta a Igreja. Queira Deus que a entrada do novo bispo possa ser um factor aglutinador de todas as forças humanas, bem conduzidas pela força do Espírito Santo de Deus, no sentido de perscrutarmos de forma inteligente e audaz os caminhos a percorrer.

A entrada do novo bispo coincidiu com a última fase da implementação do anterior Plano Diocesano de Pastoral para 2008-2011, intitulado “Ide e fazei discípulos”. Em tempo oportuno as várias instituições fizeram a avaliação do impacto que teve na vida das comunidades e da própria Diocese. Não temos preparado novo Plano Pastoral devido às circunstâncias de mudança que conhecemos e porque ele tem de surgir da reflexão e oração conjunta, por meio das quais procuraremos discernir as prioridades e definir alguns objectivos a curto prazo, que nos ocuparão nos próximos tempos.

Este ano pastoral de 2011-2012 sem um Plano Pastoral definido será de reflexão e poderá ter grande utilidade, se nos ajudar, com muita ponderação, a traçar algumas prioridades pastorais, objectivos e linhas de conduta. É um ano em que procurarei conhecer a realidade da Diocese e inserir-me nos seus dinamismos. No início do próximo ano esperamos ter um novo Plano Diocesano de Pastoral.

Juntamente com o Conselho Episcopal, delineámos o programa destas Jornadas de Pastoral, intituladas “Caminhos de revitalização das comunidades cristãs”. O objectivo fundamental, como vos disse na carta enviada, consistia em nos levar a revisitar os fundamentos escriturísticos e do magistério conciliar acerca da identidade cristã e eclesial que nos permitisse olhar para as comunidades cristãs que somos e abrir alguns caminhos para a sua revitalização. No fundo, pretendíamos recentrar-nos nas fontes da identidade da Igreja e de toda a sua acção, para a partir daí pensarmos o nosso modo concreto de ser Igreja nas circunstâncias actuais. Daí que tenhamos insistido na Palavra sempre nova da Escritura e no Magistério mais actual da Igreja, o do Concílio Vaticano II e do pós-concílio.

Nesta comunicação pressuponho aquilo que foi dito pelos competentes conferencistas que convidámos e procurarei situar-me num plano mais prático, numa tentativa de vos oferecer algumas reflexões e propor alguns desafios. Trata-se, como é evidente, de uma visão parcial e que enferma de um insuficiente conhecimento da globalidade da vida da diocese de Coimbra, tão vasta nas suas dimensões e tão complexa nos seus múltiplos detalhes.

2. O ESPÍRITO QUE NOS ANIMA

Na encruzilhada dos tempos em que nos encontramos, a Igreja vê desafios novos e grandes, que tem de estar à altura de enfrentar. A laicização crescente da sociedade, a perda do sentido de Deus, o materialismo prático, a crise de valores, o eclipse do transcendente, entre outros.

Depois de uma Igreja de cristandade, influente, capaz de marcar o ritmo da sociedade e da cultura a diferentes níveis, somos agora uma Igreja que perde nas estatísticas e caracterizada por uma enorme ausência de convicções em parte dos seus membros. Sentimo-nos Igreja em declínio, com todas as consequências que isso provoca a nível psicológico. Os leigos por um lado e os ministros ordenados por outro, estão marcados por um certo desencanto, quando não desânimo e tentação de desistir. Frequentemente se ouvem nas assembleias, encontros, instituições e serviços eclesiais, expressões significativas como: as pessoas não vêm; os jovens estão ausentes da Igreja; já experimentámos e não conseguimos nada... Será que vale a pena?

O pessimismo tornou-se um denominador comum, com muitas consequências negativas: o deixar correr as coisas sem grandes sobressaltos nem iniciativas; o assistencialismo religioso, próprio de quem tenta adiar uma falência que parece inevitável; a incapacidade de reagir com novas propostas. Ao nível das comunidades paroquiais vai-se notando uma cada vez maior desertificação das igrejas, a diminuição da prática dominical, da frequência da catequese infantil, do número dos que casam catolicamente, dos que são baptizados e confirmados, e o crescente aumento do número de pessoas que não se identificam com o pensar e sentir da Igreja, sobretudo com a sua doutrina moral.

Ao nível da Diocese parecem faltar linhas de orientação bem claras para todos, propostas de acção, uma organização bem definida, agentes qualificados e inclusivamente estruturas humanas e físicas.

Em consequência de um certo desgaste provocado por estas situações, pode faltar algum entusiasmo e alguma alegria na realização da missão eclesial. Pode acontecer que se enfrentem as dificuldades provenientes das circunstâncias actuais mais como um encargo pesado do que como uma oportunidade e um desafio.

A situação que vivemos encontra um paralelo muito claro com a que nos oferece o Evangelho Segundo S. João no capítulo VI, após o discurso do Pão do Céu. Depois de anunciar a Sua carne como verdadeira comida e o Seu sangue como verdadeira bebida, Jesus pressente à sua volta uma reacção negativa, em consequência da dureza daquelas palavras que preanunciam a Sua paixão. As multidões e os próprios Apóstolos são tomados pela tentação do desânimo: as primeiras começam um movimento de afastamento; os segundos ficam inactivos e tolhidos nos seus movimentos, desorientados. A situação provoca a pergunta incisiva de Jesus: “Também vós quereis ir embora?”. Simão Pedro responde: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus” (Jo 6, 67-68).

Estas palavras mostram-nos de forma eloquente que a Igreja está sujeita a passar por momentos difíceis e que a tentação de desistir é de todos os tempos. Quanto mais nos afastamos de Cristo e nos envolvemos com as estruturas humanas, mais facilmente perdemos o sentido da fé e cedemos face às adversidades. No mesmo discurso, Jesus refere-se à comunhão profunda com Ele como condição para permanecer firme na fé: “Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim (Jo 6, 56-57).

Tanto nós, os sacerdotes, como todos os outros cristãos que assumem qualquer ministério na Igreja, temos um primeiro desafio pela frente: deixar-nos encantar por Cristo, crescer no amor à Sua Igreja e na paixão pela salvação da humanidade. Sem paixão por Cristo e sem nos sentirmos os mais felizes dos homens pelo facto de, sem merecimento algum termos sido chamados por Ele e associados de um modo muito particular à sua pessoa e missão, nunca seremos agentes de renovação da Igreja. A diocese de Coimbra precisa urgentemente de sacerdotes, religiosos e leigos alegres por viverem com Cristo e por Cristo.

3. A PASTORAL DA FÉ

Frequentes vezes tenho sido abordado pelos meios de comunicação social e por algumas pessoas desejosas de saber quais são as minhas prioridades pastorais. Dentre tantos aspectos importantes e urgentes que podemos elencar, creio que a pastoral da fé está subjacente a todas elas.

No texto já referido do Evangelho de João, o evangelho da fé, há uma palavra inspiradora. As multidões, depois de serem saciadas na multiplicação dos pães, perguntam a Jesus: “Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?” Ele responde-lhes: “A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou” (Jo 6, 28-29).

A acção e estruturas da Igreja têm sentido e realizam a sua missão se estão ao serviço do crescimento da fé, ou seja, se levam as pessoas a crer naquele que o Pai enviou. Mais urgente se torna esta séria pastoral da fé no contexto de acentuada descristianização em que nos encontramos.

A acção da Igreja Diocesana há-de consistir prioritariamente em proporcionar os meios necessários para um caminho pessoal de conhecimento de Jesus Cristo, de encontro com Ele e de aprofundamento dos laços de comunhão com Ele. Essa acção tem de dirigir-se aos que estão fora da Igreja e precisam de encontrar uma fé porventura perdida ou que nunca germinou; aos que estando oficialmente dentro da Igreja por tradição cultural, perderam o sentido de Deus e precisam de ser reevangelizados; aos que estando dentro e sendo inclusivamente praticantes não têm uma fé enraizada, esclarecida ou comprometida.

Quando a Igreja propõe a Nova Evangelização, tem como objectivo centrar-nos de novo em Jesus Cristo e no Evangelho, utilizando os métodos e os meios adequados ao mundo actual. É necessário um novo ardor, como nos disse já o Papa João Paulo II e repetiu o Papa Bento XVI.

Gostaria que os próximos anos fossem essencialmente voltados para esta pastoral da fé, para a nova evangelização das comunidades, para o conhecimento de Jesus Cristo, para a adesão íntima e profunda a Ele. Este é o pressuposto básico para que qualquer renovação das estruturas eclesiais não seja uma operação estratégica vazia de significado, não compreendida nem desejada pelo Povo de Deus. É a partir de comunidades cristãs com uma fé forte, esclarecida e assumida que é possível fazer a passagem de uma Igreja centrada nas tradições populares religioso-culturais para uma Igreja assente em critérios evangélicos.

Ouso apontar três áreas sobre as quais deverá recair o nosso investimento num futuro imediato e que poderão ser objecto privilegiado do próximo/os Planos Diocesanos de Pastoral:

Eucaristia e Sacerdócio. É necessário aprofundar o lugar e significado da Eucaristia e do Sacerdócio na vida da Igreja, particularmente numa Diocese onde se multiplicam as celebrações dominicais na ausência de presbítero e onde as vocações sacerdotais são em número tão reduzido. É prioritário levar as comunidades a tomarem consciência do lugar insubstituível da participação na missa dominical, mesmo com sacrifício. O pior que poderia acontecer era os cristãos equipararem a Celebração Dominical na Ausência de Presbítero com a Celebração da Eucaristia. Urge, por isso, definir os critérios orientadores nesta matéria e preparar e celebrar com qualidade extrema a Eucaristia, de modo que transpareça sempre como ponto alto do culto cristão. Ao mesmo tempo, é prioritário investimento numa séria catequese sobre o sacerdócio na vida da Igreja e o trabalho em favor das vocações sacerdotais, como dimensão transversal a todos os sectores da pastoral da Igreja

Palavra de Deus. É necessário implementar um sério conhecimento da Sagrada Escritura, como Palavra de Deus que, juntamente com a Eucaristia, é o alimento de Deus para a sua Igreja. Não se pode fazer a nova evangelização sem propor aos cristãos a leitura, meditação e oração a partir da Palavra de Deus, tanto individualmente, como em família ou na comunidades cristã. A leitura litúrgica, a celebração da Liturgia das Horas e a lectio divina, acompanhadas pelo estudo bíblico são meios indispensáveis para o aprofundamento da fé. Temos de gastar muito tempo e energias a difundir entre os cristãos a prática da leitura orante da Bíblia, porque “a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”.

Piedade popular. É necessário evangelizar a piedade popular, com manifestações tão ricas e expressivas em toda a Diocese. Concretamente, a piedade mariana tem sido muito valorizada pela Igreja, que reconhece o seu valor e apresenta critérios para o seu aproveitamento no Directório sobre Piedade Popular e Liturgia – Princípios e Orientações, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A proximidade da celebração do centenário das aparições de Fátima poderá constituir um meio privilegiado de mobilização, que permita algumas acções de evangelização das massas. A devoção mariana bem enquadrada teologicamente pode ser um grande veículo para congregar o Povo de Deus.

4. REPENSAR AS ESTRUTURAS PASTORAIS DA DIOCESE

Li os mais recentes documentos de trabalho elaborados na diocese de Coimbra sobretudo no âmbito do Conselho Presbiteral, particularmente o documento intitulado “Adequação Pastoral da Diocese de Coimbra às Exigências da Renovação Conciliar e aos Novos Contextos Sociais”, de 1999; a proposta de “Directório para os Arciprestados em dinâmica de Unidade Pastoral”, de 2010; e o documento que reúne as respostas ao texto da Conferência Episcopal “Repensar Juntos a Pastoral da Igreja em Portugal – Reflexão feitas nas Assembleias”. Repassei também os documentos do XII Sínodo Diocesano.

Percebi que há uma longa reflexão feita acerca dos caminhos a percorrer na acção pastoral da Diocese, que precisa de ter continuidade em ordem a um maior amadurecimento. Esperamos que não nos falte a segurança necessária em ordem às decisões e à implementação das medidas definidas.

Ninguém terá já dúvidas acerca da inadequação entre os nossos meios, métodos e estruturas pastorais, por um lado, e a nossa realidade cultural, sociológica e eclesial. As comunidades cristãs e a nova evangelização exigem mudanças muito profundas, muita coragem e muita ousadia, que frequentemente chocam com algum comodismo ou com a inflexibilidade de pessoas e comunidades.

Permito-me elencar algumas iniciativas que me parecem mais prementes no momento de criar condições mais adequadas à acção da Igreja Diocesana, a curto prazo:

a) Criação de um Conselho de Coordenação Pastoral, que, juntamente com o bispo, elabore os planos e programas pastorais, e promova a unidade indispensável de toda a acção pastoral diocesana.
b) Redefinição do organigrama dos órgãos executivos da Diocese: secretariados, serviços, departamentos, comissões...
c) Criação do Centro Pastoral Diocesano, no qual tenham sede todos os organismos diocesanos e se optimizem as sinergias existentes.
d) Reestruturação do plano de formação teológica dos leigos e de formação para os ministérios laicais, admitindo a hipótese de centralizar toda a formação dos leigos numa única entidade com pluralidade de valências.

5. QUESTÕES PENDENTES, MAS URGENTES

5.1. ADEQUAÇÃO DAS ESTRUTURAS PASTORAIS

Está em curso uma reflexão alargada acerca da adequação das estruturas pastorais da Diocese às circunstâncias actuais e acerca da necessidade de rever as diferentes circunscrições eclesiásticas vigentes, a saber: vigararias episcopais, arciprestados, unidades pastorais e paróquias.

Existe já um esboço de documento intitulado “Directório para os Arciprestados – em Dinâmica de Unidade Pastoral”, surgido no âmbito do Conselho Presbiteral e que oferece um bom ponto de partida para o estudo e reflexão, que há que continuar.

Junto alguns aspectos que me parecem fundamentais no momento de equacionar a questão da união de paróquias.

Em traços muito largos, podemos dizer que o modelo do passado, uma paróquia, um pároco, salvo raras excepções, não é mais possível na actualidade. É preciso, por isso, prever formas de agregação das paróquias que tenham a marca da estabilidade e dêm garantias de futuro a um trabalho que já está em curso ou tem de iniciar. Os conjuntos de paróquias, também chamados Unidades Pastorais, têm de ser definidos, tendo em conta a dimensão, a população e as afinidades locais. O factor determinante para esta divisão há-de ser a própria realidade local e populacional e não as capacidades do sacerdote.

O modelo tradicional do sacerdote, que vive sozinho e, por vezes, isolado, não serve para os tempos presentes. Cada vez mais, a vida em pequenas comunidades sacerdotais é condição para a vivência feliz da fé cristã, para a entrega no serviço à Igreja e para que a ninguém falte o apoio humano e fraterno no meio de uma vida extremamente exigente.

As pequenas dimensões de algumas comunidades paroquiais, sobretudo nas regiões mais desertificadas e a prática cristã mais reduzida em muitas outras, impedem-nas de ter o dinamismo necessário ou confrontam-nas com a falta de meios humanos e materiais para sobreviverem com qualidade. A uma escala maior as possibilidades de qualidade celebrativa, catequética, evangelizadora, sócio-caritativa são maiores.

Do mesmo modo, o número e as fronteiras dos Arciprestados actualmente existentes, também carece de correcções.

Alguns, pelo facto de terem ao seu serviço um reduzido número de sacerdotes, acabam por não funcionar como arciprestados: é difícil programar acções comuns, não têm grande viabilidade as reuniões periódicas do clero com tão poucos participantes, e até o ofício de arcipreste acaba por ficar desvalorizado.

Tudo indica que o arciprestado para ter a relevância que lhe confere o Código de Direito Canónico tem de sofrer algumas mudanças na situação presente em que se encontra a diocese de Coimbra, como aliás nota o já referido documento de estudo.

5.2. FORMAÇÃO TEOLÓGICA E SACERDOTAL

Entre as questões complexas que a diocese de Coimbra actualmente enfrenta, está a da formação sacerdotal.

O Seminário Maior está a funcionar este ano com 20 alunos, dos quais 16 são da Diocese e 4 são de Cabo Verde.

O Instituto Superior de Estudos Teológicos funciona com o mesmo número de alunos, uma vez que, em virtude do Estatuto de Filiação na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, não pode acolher outros alunos senão os que se preparam para as Ordens Sacras. Acontece que, como condição para lhes ser conferido o título académico de Mestrado Integrado em Teologia, devem matricular-se durante dois anos na Faculdade de Teologia, onde fazem quatro cadeiras curriculares, dois seminários e a tese final de mestrado. Ao longo de dois anos estão a deslocar-se uma vez por semana ao Polo da Faculdade de Teologia do Porto com esta finalidade.

Estamos numa fase de indefinição quanto ao futuro do Instituto que, não pode prolongar-se por muito tempo, sob pena de prejudicar a formação sacerdotal e a actividade tanto de alunos como de docentes.

O objectivo do ISET seria evoluir do Estatuto de Filiação para o de Agregação. Para a Congregação da Educação Católica, a Filiação é a figura canónica dos institutos destinados à formação paras Ordens Sacras, ou seja, para os Seminários; e a Agregação é a figura canónica dos institutos destinados à formação teológica em geral. Deparamo-nos com algumas dificuldades concretas: o número reduzido de alunos, a escassez de pessoas dedicadas prioritariamente à actividade docente.

Estamos neste momento a estabelecer contactos com a Direcção da Faculdade de Teologia no sentido de propormos a evolução para o Estatuto de Agregação. Reconhecemos que nos exigiria um grande esforço a todos os níveis, sobretudo na formação dos professores e no aumento do número de alunos, mas reconhecemos também que seria um meio extremamente útil para a formação teológica dos candidatos às Ordens Sacras e para a formação dos leigos, assim como para o diálogo fé e cultura, para o intercâmbio com o meio universitário e para credibilizar a presença da Igreja no mundo. Acreditamos que a região centro do país e a cidade universitária que é Coimbra tem necessidade de estudos teológicos.

Numa perspectiva realista, temos de admitir também a hipótese de não conseguir viabilidade para este plano. Isso implicaria a transferência do Seminário Maior para outro lugar, a fim de os alunos aí frequentarem a Teologia.

5.3. EDIFÍCIOS DA DIOCESE

A diocese Coimbra está deficitária no que diz respeito a instalações destinadas a actividades de carácter espiritual, formativo e pastoral:

- falta um Centro Pastoral;

- alguns Serviços estão mal instalados e dispersos por diferentes locais;

- sente-se a falta de uma casa de retiros;

- o edifício do Seminário Maior precisa de requalificação;

- a finalidade do Seminário da Figueira da Foz não está definida;

- o antigo edifício da Gráfica de Coimbra está degradado.

Urge, por isso, delinear uma estratégia de acção, que exige a ponderação dos seguintes aspectos: necessidades efectivas da Diocese, prioridades pastorais, conveniência da afectação de determinado edifício a determinada finalidade, capacidade económica.

Vamos debruçar-nos quanto antes sobre este assunto.

6. CONCLUSÃO

Nestes quase três meses de presença na Diocese de Coimbra procurei observar a realidade, colher informação, perceber as desilusões e aspirações de muitas pessoas com quem já contactei, sacerdotes e leigos. Regra geral, os cristãos mostram grande desejo de crescer na fé, de trabalhar na Igreja e de dar a volta às situações mais difíceis.

A Diocese tem pela frente grandes desafios que, espero, nos hão-de mobilizar a todos, particularmente a nós, sacerdotes enquanto participantes da missão de Cristo Pastor.

Procuraremos enraizar-nos bem na fé, por meio de uma vida espiritual profunda, alicerçada na Eucaristia, na Palavra de Deus e na oração pessoal profunda. O Espírito Santo dar-nos-á a capacidade de discernimento necessária para colaborarmos com Ele na edificação da Igreja, sacramento de salvação da humanidade.

Peço a Nossa Senhora, Santa Maria de Coimbra, que nos ampare nesta tarefa que confiados na sua protecção assumimos.

Coimbra, 29 de Setembro de 2011
+ Virgílio do Nascimento Antunes
(Bispo de Coimbra)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ano Pastoral 2011 / 2012

A expressão, da Sagrada Escritura, que orientará toda a nossa actividade no próximo ano pastoral será esta, retirada da Carta aos Hebreus, cap. 4, versículo 12:

A Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb. 4, 12)
Esta expressão remete-nos para Cristo - a Palavra Viva; para a eficácia da palavra do Ressusucitado mediante o Seu Espírito; e para a necessidade de tornar eficaz, na vida quotidiana, a Palavra que recebemos.
Por outro lado, consubstanciam-se a necessidade de aprofundar, celebrar e viver a Palavra, permitindo que a sua eficácia se estenda a todos aqueles com quem partilhamos o nosso quotidiano. É um convite a centrarmo-nos em Cristo e a testemunhá-Lo com toda a nossa vida.
Pe. Carlos Godinho

segunda-feira, 11 de julho de 2011

ANO PASTORAL 2011 / 2012

Tendo em consideração que o caminho percorrido, no ano pastoral que termina, deve de ser ainda continuado; consciente que o lema proposto - A Comunidade Vive da Palavra - não se esgota, de modo algum, num ano pastoral; entendendo, pese embora a acção de alguns grupos a caminho, que é necessário novo fôlego na proposta de aprofundamento bíblico, na perspectiva da lectio divina; o pároco propõe que se mantenha o mesmo lema e se revigore a caminhada em torno da Sagrada Escritura para o próximo ano pastoral.
Deverá ser ouvido sobre esta proposta, em Setembro, o Conselho Pastoral Paroquial (que assumirá contornos interparoquiais), e atenderemos às orientações diocesanas que, no mesmo mês, nos forem comunicadas.
Três conteúdos base informarão a nossa caminhada: «aprofundamento bíblico»; «renovação espiritual com a lectio divina»; e «nova evangelização». Para esta última nos remete o Sínodo dos Bispos a acontecer em 2012, bem como os desafios já propostos pelo novo Bispo de Coimbra.
Para a caminhada a continuar, servir-nos -ão de base de trabalho a Dei Verbum, do Concílio Vaticano II; a Exortação Apostólica Pós-Sinodal A Palavra do Senhor, do Papa Bento XVI; e alguns conteúdos dos lineamenta do Sínodo em preparação. Para a acção a desenvolver retomamos os livros: La Casa de La Bíblia, Curso de Iniciação à Leitura da Bíblia (tradução do espanhol do Pe. Idalino Simões, editado pela Gráfica de Coimbra); e, do mesmo autor, O Tesouro do Escriba (até Novembro, final do ano litírgico, acompanhando São Mateus; a partir do início do novo ano litúrgico, o Evangelista Marcos).
Desejamos que esta proposta se estenda ainda a um número mais diversificado de cristãos, continuando os grupos já formados a sua caminhada. Haverá ainda a possibilidade de quinzenalmente o pároco fazer formação bíblica, tendo como instrumento de trabalho o livro referido - Curso de Iniciação à Leitura da Bíblia.
Luso/Pampilhosa, 11 de Julho de 2011
Pe. Carlos Alberto G. Godinho
Pároco

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Bem-vindo Senhor Bispo

(Clique na imagem para ampliar)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

PALAVRAS DE D. VIRGÍLIO ANTUNES


PALAVRAS DE D. VIRGÍLIO ANTUNES

Domingo, 03 Julho 2011 21:45


“Anunciamos Cristo crucificado, sabedoria de Deus.”

Palavras D. Virgílio no final da sua ordenação episcopal



Irmãos e irmãs
Caríssimos amigos

Quis Deus que aqui nos congregássemos como assembleia de fiéis para celebrar a Eucaristia e a minha ordenação episcopal. Da minha parte, procuro elevar até à Santíssima Trindade a minha oração de louvor e acção de graças, porque nos seus pobres servos continua a realizar as suas grandes coisas.

Sei que todos vós aqui presentes, e muitos outros que nos acompanham espiritualmente, manifestais a Deus a mesma gratidão e o mesmo louvor.

Agradeço, neste momento, a todas as pessoas que por esta altura ofereceram a Deus as suas preces e me tiveram presente na sua oração.

Em Setembro de 2008, quando nesta mesma Igreja assumi a reitoria do Santuário de Fátima, estava bem longe de imaginar que passado este tempo, aqui estivesse nestas circunstâncias.

Quando o Senhor Núncio Apostólico me informou da decisão do Santo Padre me nomear bispo de Coimbra, tive a tentação de pensar se era uma boa ou má opção, se o momento seria oportuno, se não deveria continuar a desenvolver os projectos em curso no Santuário... A conclusão impôs-se: é a voz da Igreja que, seguindo os trâmites prescritos, precisa de prover às suas necessidades; prometeste obediência à mesma Igreja, não podes senão dizer “sim”.

Neste momento, reafirmo a minha comunhão com a Igreja de Cristo e a minha disponibilidade para cooperar com ela na realização da sua missão de sacramento de salvação universal. Ao Papa Bento XVI manifesto a grande alegria que me confere a graça de poder colaborar com ele, de forma mais próxima, na tarefa de servir a missão de Cristo Pastor.

A partir da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios (1, 23-24), escolhi como lema episcopal a frase: Anunciamos Cristo crucificado, sabedoria de Deus.

Significa que procuro centrar-me na pessoa de Jesus Cristo, cujo significado só se pode entender a partir da cruz como caminho de ressurreição e da glória.

Significa também que a linguagem da cruz, que hoje se procura calar e esconder, continua a ser o grande sinal do amor de Deus pelo seu povo em todas as situações de consolação e de sofrimento.

Significa ainda que o anúncio evangelizador precisa de continuar a fazer-se aos quatro ventos, com uma linguagem nova e acessível, mas sempre centrada no acontecimento fundante da nossa fé, o mistério pascal de Jesus Cristo.

Significa finalmente que quero exercer o ministério na Igreja com a alegria proveniente da gloriosa ressurreição de Cristo e com a humildade e espírito de entrega e serviço provenientes da sua paixão.

À diocese de Coimbra, aqui representada no Senhor D. Albino Cleto, Administrador Apostólico, e em muitos sacerdotes religiosos e leigos, quero dizer que estou disponível para ir ao vosso encontro com a confiança e a esperança fundadas em Cristo que me chamou e me envia.

Gostaria de chegar ao meio de vós como um amigo e como um irmão que comunga das vossas alegrias e tristezas, que acolhe e é acolhido na simplicidade, e que vos confirma na fé enquanto porção do Povo de Deus.

Saúdo a diocese de Leiria-Fátima, na pessoa do nosso bispo D. António Marto e do bispo emérito D. Serafim Silva. Servi-a com muito gosto durante 25 anos, e sinto-me muito grato por todas as possibilidades que me proporcionou.

Saúdo a minha paróquia de São Mamede e todos os conterrâneos que se alegram comigo neste momento. Uma palavra muito especial de gratidão para a minha família, sobretudo para os meus pais e as minhas irmãs, que nunca faltaram com o amor e o apoio necessários à vida em todos os seus momentos.

Saúdo o Santuário de Fátima, com o Reitor, os capelães, os funcionários e os voluntários. Devo dizer que foram muito bons os anos aqui passados e que foi generosa e amiga a vossa colaboração e ajuda. O mesmo posso dizer dos grupos, associações, movimentos e instituições ligados a Fátima e com os quais tive a possibilidade de contactar.

A última palavra reservo-a aos Beatos Francisco e Jacinta Marto, a quem peço poderosa intercessão junto de Deus, e a Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a quem consagro a totalidade da minha vida e o ministério episcopal que recebi.

Que eu seja todo teu, ó Mãe de Cristo e Mãe da Humanidade. Que esta pedra azul, pequenina e discreta, que figura nas minhas insígnias, signifique a tua presença materna aos pés da cruz de Cristo e de todas as minhas cruzes. Ámen.


Igreja da Santíssima Trindade, Santuário de Fátima, 3 de Julho de 2011

+ Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nota Pastoral sobre a vinda do novo Bispo

1. A Diocese de Coimbra vai acolher o seu novo Pastor, que lhe é enviado como sucessor dos Apóstolos.
Depois de receber em Fátima, no próximo dia 3 de Julho, o ministério episcopal, último grau do Sacramento da Ordem, o Sr. D. Virgílio do Nascimento Antunes entra na igreja sua sede e começa a conduzir a Diocese no domingo, dia 10 de Julho de 2011.

2. Todos os filhos de Deus, que pelo Baptismo constituem esta Igreja particular, hão-de viver o acontecimento com sentimentos de alegria e um olhar de fé.
Assim, mais do que considerarem os títulos e dotes humanos do escolhido, a quem desejam longos anos de vida sacerdotal e as maiores bênçãos de Deus, querem agradecer ao Senhor da Messe a riqueza do ministério episcopal, deixado aos Apóstolos como fonte de luz e de graça, que ao longo de vinte séculos permanece vivo na Igreja.

3. Afirma o Concílio II do Vaticano: “Os Bispos, como sucessores dos Apóstolos, recebem do Senhor, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra, a missão de ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda a criatura, para que todos os homens se salvem pela fé” (LG 24).
E mais adiante: “Revestido da plenitude do Sacramento da Ordem, o Bispo é o administrador da graça do supremo sacerdócio, principalmente na Eucaristia, que ele mesmo oferece ou providência para que seja oferecido” (LG 26).
Com tais afirmações somos alertados para entender que, se Cristo é a Verdade e a nascente da graça, o Bispo é o canal primordial para que elas corram na Igreja diocesana.
Com esse intuito deve o Bispo ser pastor, cuidando de se rodear de outros, principalmente presbíteros e diáconos, mas também fiéis leigos, que o tornem presente pela colaboração que lhes é confiada.
E tudo há-de ser realizado na unidade da caridade, tarefa primordial do pastor: “Cada um dos Bispos é princípio e fundamento visível da unidade nas suas respectivas Igrejas” (LG. 23). Cuidando sempre desta unidade, procura o “Pai de família” orientar para a convergência dos objectivos comuns a variedade e riqueza dos ministérios e carismas: religiosos, leigos consagrados, paróquias, associações, movimentos apostólicos…
Em tudo quanto faz não pode o Bispo ceder à tentação de se isolar, entregue apenas aos cuidados do seu rebanho. Antes de mais, ele é membro do colégio episcopal. Por isso lembra o Concílio: “Enquanto membros do colégio episcopal e legítimos sucessores dos Apóstolos, (os Bispos) estão obrigados, por instituição e preceito de Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja, a qual, embora não se exerça por um acto de jurisdição, concorre, contudo, grandemente para o bem da Igreja universal” (LG 23). Que os diocesanos de Coimbra compreendam a importância basilar desta integração do seu Bispo no Colégio Episcopal, presidido pelo sucessor de Pedro, como laço fundamental, a par do Credo e dos Sacramentos, que os une a toda a Igreja de Cristo.

4. Há mil e quinhentos anos que a sucessão apostólica é assegurada nas terras de Conímbriga. Desde o primeiro nome conhecido (Lucêncio, no Séc. VI), uma sucessão de pastores, quantos deles bem ilustres e zelosos e outros perseguidos, garantem a fidelidade à Igreja de Jesus. Que isto seja novo motivo de acção de graças nesta data de regozijo.

5. O Bispo preside, em nome de Cristo, a um povo que é todo Ele povo participante da missão de Jesus, Rei, Profeta e Sacerdote. Por isso o Pastor Diocesano confia na generosa entrega dos seus irmãos, sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos, ao trabalho da construção do Reino na sociedade em que vivem, onde são luz e sal.
Que a vinda de um novo pastor desperte em todos os diocesanos de Coimbra este seu dever e compromisso apostólico, exercido em comunhão de fé e amor com seus irmãos.
Seja esta uma especial ocasião para rogarmos ao Senhor da Messe que mande operários para a sua Messe, a fim de que o Sr. Dom Virgílio Antunes veja no Presbitério que o rodeará, em número crescente, os colaboradores mais directos de que tanto vai necessitar.

Que a Mãe de Jesus, de cujo bendito Santuário de Fátima recebemos este Pastor, o envolva no seu manto maternal e brilhe sobre ele e sobre todos nós como Estrela da Manhã. E que Santo Agostinho, nosso Padroeiro, o acompanhe e assista ao longo de muitos anos.


+ Albino Mamede Cleto

Administrador Apostólico

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sínodo dos Bispos - «A NOVA EVANGELIZAÇÃO»

Deixo aqui a hiperligação - bem como na barra lateral - para o texto dos «Lineamenta» para o próximo Sínodo dos Bispos, sobre a «Nova Evangelização». Um instrumento de trabalho que vale a pena aprofundar em ordem ao revigoramento da primeira missão da Igreja.

A hiperligação é a seguinte:

http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20110202_lineamenta-xiii-assembly_po.html

segunda-feira, 2 de maio de 2011

II DOMINGO DA PÁSCOA (Homilia)

Uma vez que me foi apontada esta possibilidade de partilha, para posterior reflexão, deixo aqui o esquema de homilia deste II Domingo da Páscoa. O objectivo desta publicação é unicamente o de permitir uma nova reflexão sobre as linhas força do que meditámos na Celebração Eucarística.



II DOMINGO DA PÁSCOA
(01.05.2011)

• Convites da Liturgia da Palavra:
- Reconhecer Cristo («Meu Senhor e meu Deus»);
- Anunciar Cristo a todos os homens (mandato
confiado por Jesus à sua Igreja e o dom do Espírito).

As dificuldades da fé:
- A ausência de Tomé (ausência no contexto do banquete eucarístico);
- A experiência (é Ele que se revela a cada um como a Tomé - «põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado» - num verdadeiro encontro pessoal);
- Para chegar à verdadeira profissão de fé: «Meu Senhor e meu Deus»);
- A bem-aventurança proclamada por Jesus: «Felizes os que acreditam sem terem visto».

A missão da Igreja:

- Sagrada Escritura: «Assim como o Pai Me enviou, também eu vos envio a vós. Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”».

- Concílio:
. Carácter missionário da Igreja:
«A Igreja existe para dilatar o Reino de Cristo a toda a terra, salvar todos os homens e ordenar o mundo inteiro para Cristo. Toda e qualquer actividade da Igreja ou dos seus membros, destinada a obter estes fins, chama-se apostolado: a vocação cristã, por sua própria natureza, é vocação ao apostolado. A Igreja é como um corpo vivo no qual cada membro não pode ficar parado, mas participar activamente segundo a sua função e capacidade. Por isso, qualquer membro da Igreja que não contribua para o seu crescimento, não é útil á Igreja nem a si mesmo» (AA. 2).

«Como a Igreja particular deve representar o mais perfeitamente possível a Igreja Universal, tenha consciência de que ela também foi enviada àqueles que, não crendo em Cristo, vivem com ela no mesmo território, para que, pelo testemunho de vida de cada um dos fiéis e de toda a comunidade, seja um sinal de orientação para Cristo» (AG. 20).

. Carácter missionário de cada cristão: «Cada discípulo de Cristo participa na responsabilidade de espalhar a fé» (LG.17); «O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvífica da Igreja; são todos destinados pelo Senhor a este apostolado ao receberem o Baptismo e a Confirmação» (LG. 33).

- Convite da Igreja Particular: «Sereis minhas testemunhas» - «todos serão sujeito e destinatário desta palavra evangélica, os jovens e as crianças, os adultos e os idosos, os letrados e os simples, os leigos e também os sacerdotes e consagrados» (Programa Pastoral 2010/2011).

domingo, 1 de maio de 2011

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA BEATIFICAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Átrio da Basílica Vaticana
Domingo, 1° de Maio de 2011



Amados irmãos e irmãs,

Passaram já seis anos desde o dia em que nos encontrávamos nesta Praça para celebrar o funeral do Papa João Paulo II. Então, se a tristeza pela sua perda era profunda, maior ainda se revelava a sensação de que uma graça imensa envolvia Roma e o mundo inteiro: graça esta, que era como que o fruto da vida inteira do meu amado Predecessor, especialmente do seu testemunho no sofrimento. Já naquele dia sentíamos pairar o perfume da sua santidade, tendo o Povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele. Por isso, quis que a sua Causa de Beatificação pudesse, no devido respeito pelas normas da Igreja, prosseguir com discreta celeridade. E o dia esperado chegou! Chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor: João Paulo II é Beato!

Desejo dirigir a minha cordial saudação a todos vós que, nesta circunstância feliz, vos reunistes, tão numerosos, aqui em Roma vindos de todos os cantos do mundo: cardeais, patriarcas das Igrejas Católicas Orientais, irmãos no episcopado e no sacerdócio, delegações oficiais, embaixadores e autoridades, pessoas consagradas e fiéis leigos; esta minha saudação estende-se também a quantos estão unidos connosco através do rádio e da televisão.

Estamos no segundo domingo de Páscoa, que o Beato João Paulo II quis intitular Domingo da Divina Misericórdia. Por isso, se escolheu esta data para a presente celebração, porque o meu Predecessor, por um desígnio providencial, entregou o seu espírito a Deus justamente ao anoitecer da vigília de tal ocorrência. Além disso, hoje tem início o mês de Maio, o mês de Maria; e neste dia celebra-se também a memória de São José operário. Todos estes elementos concorrem para enriquecer a nossa oração; servem-nos de ajuda, a nós que ainda peregrinamos no tempo e no espaço; no Céu, a festa entre os Anjos e os Santos é muito diferente! E todavia Deus é um só, e um só é Cristo Senhor que, como uma ponte, une a terra e o Céu, e neste momento sentimo-lo muito perto, sentimo-nos quase participantes da liturgia celeste.

«Felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20, 29). No Evangelho de hoje, Jesus pronuncia esta bem-aventurança: a bem-aventurança da fé. Ela chama de modo particular a nossa atenção, porque estamos reunidos justamente para celebrar uma Beatificação e, mais ainda, porque o Beato hoje proclamado é um Papa, um Sucessor de Pedro, chamado a confirmar os irmãos na fé. João Paulo II é Beato pela sua forte e generosa fé apostólica. E isto traz imediatamente à memória outra bem-aventurança: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus» (Mt 16, 17). O que é que o Pai celeste revelou a Simão? Que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus vivo. Por esta fé, Simão se torna «Pedro», rocha sobre a qual Jesus pode edificar a sua Igreja. A bem-aventurança eterna de João Paulo II, que a Igreja tem a alegria de proclamar hoje, está inteiramente contida nestas palavras de Cristo: «Feliz de ti, Simão» e «felizes os que acreditam sem terem visto». É a bem-aventurança da fé, cujo dom também João Paulo II recebeu de Deus Pai para a edificação da Igreja de Cristo.

Entretanto perpassa pelo nosso pensamento mais uma bem-aventurança que, no Evangelho, precede todas as outras. É a bem-aventurança da Virgem Maria, a Mãe do Redentor. A Ela, que acabava de conceber Jesus no seu ventre, diz Santa Isabel: «Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor» (Lc 1, 45). A bem-aventurança da fé tem o seu modelo em Maria, pelo que a todos nos enche de alegria o facto de a beatificação de João Paulo II ter lugar no primeiro dia deste mês mariano, sob o olhar materno d’Aquela que, com a sua fé, sustentou a fé dos Apóstolos e não cessa de sustentar a fé dos seus sucessores, especialmente de quantos são chamados a sentar-se na cátedra de Pedro. Nas narrações da ressurreição de Cristo, Maria não aparece, mas a sua presença pressente-se em toda a parte: é a Mãe, a quem Jesus confiou cada um dos discípulos e toda a comunidade. De forma particular, notamos que a presença real e materna de Maria aparece assinalada por São João e São Lucas nos contextos que precedem tanto o Evangelho como a primeira Leitura de hoje: na narração da morte de Jesus, onde Maria aparece aos pés da Cruz (Jo 19, 25); e, no começo dos Actos dos Apóstolos, que a apresentam no meio dos discípulos reunidos em oração no Cenáculo (Act 1, 14).

Também a segunda Leitura de hoje nos fala da fé, e é justamente São Pedro que escreve, cheio de entusiasmo espiritual, indicando aos recém-baptizados as razões da sua esperança e da sua alegria. Apraz-me observar que nesta passagem, situada na parte inicial da sua Primeira Carta, Pedro exprime-se não no modo exortativo, mas indicativo. De facto, escreve: «Isto vos enche de alegria»; e acrescenta: «Vós amais Jesus Cristo sem O terdes conhecido, e, como n’Ele acreditais sem O verdes ainda, estais cheios de alegria indescritível e plena de glória, por irdes alcançar o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas» (1 Ped 1, 6.8-9). Está tudo no indicativo, porque existe uma nova realidade, gerada pela ressurreição de Cristo, uma realidade que nos é acessível pela fé. «Esta é uma obra admirável – diz o Salmo (118, 23) – que o Senhor realizou aos nossos olhos», os olhos da fé.

Queridos irmãos e irmãs, hoje diante dos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo II. Hoje, o seu nome junta-se à série dos Santos e Beatos que ele mesmo proclamou durante os seus quase 27 anos de pontificado, lembrando com vigor a vocação universal à medida alta da vida cristã, à santidade, como afirma a Constituição conciliar Lumem gentium sobre a Igreja. Os membros do Povo de Deus – bispos, sacerdotes, diáconos, fiéis leigos, religiosos e religiosas – todos nós estamos a caminho da Pátria celeste, tendo-nos precedido a Virgem Maria, associada de modo singular e perfeito ao mistério de Cristo e da Igreja. Karol Wojtyła, primeiro como Bispo Auxiliar e depois como Arcebispo de Cracóvia, participou no Concílio Vaticano II e bem sabia que dedicar a Maria o último capítulo da Constituição sobre a Igreja significava colocar a Mãe do Redentor como imagem e modelo de santidade para todo o cristão e para a Igreja inteira. Foi esta visão teológica que o Beato João Paulo II descobriu na sua juventude, tendo-a depois conservado e aprofundado durante toda a vida; uma visão, que se resume no ícone bíblico de Cristo crucificado com Maria ao pé da Cruz. Um ícone que se encontra no Evangelho de João (19, 25-27) e está sintetizado nas armas episcopais e, depois, papais de Karol Wojtyła: uma cruz de ouro, um «M» na parte inferior direita e o lema «Totus tuus», que corresponde à conhecida frase de São Luís Maria Grignion de Monfort, na qual Karol Wojtyła encontrou um princípio fundamental para a sua vida: «Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio Te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, Maria – Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso. Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso coração, ó Maria» (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 266).

No seu Testamento, o novo Beato deixou escrito: «Quando, no dia 16 de Outubro de 1978, o conclave dos cardeais escolheu João Paulo II, o Card. Stefan Wyszyński, Primaz da Polónia, disse-me: “A missão do novo Papa será a de introduzir a Igreja no Terceiro Milénio”». E acrescenta: «Desejo mais uma vez agradecer ao Espírito Santo pelo grande dom do Concílio Vaticano II, do qual me sinto devedor, juntamente com toda a Igreja e sobretudo o episcopado. Estou convencido de que será concedido ainda por muito tempo, às sucessivas gerações, haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos prodigalizou. Como Bispo que participou no evento conciliar, desde o primeiro ao último dia, desejo confiar este grande património a todos aqueles que são, e serão, chamados a realizá-lo. Pela minha parte, agradeço ao Pastor eterno que me permitiu servir esta grandíssima causa ao longo de todos os anos do meu pontificado». E qual é esta causa? É a mesma que João Paulo II enunciou na sua primeira Missa solene, na Praça de São Pedro, com estas palavras memoráveis: «Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo!». Aquilo que o Papa recém-eleito pedia a todos, começou, ele mesmo, a fazê-lo: abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos e económicos, invertendo, com a força de um gigante – força que lhe vinha de Deus –, uma tendência que parecia irreversível. Com o seu testemunho de fé, de amor e de coragem apostólica, acompanhado por uma grande sensibilidade humana, este filho exemplar da Nação Polaca ajudou os cristãos de todo o mundo a não ter medo de se dizerem cristãos, de pertencerem à Igreja, de falarem do Evangelho. Numa palavra, ajudou-nos a não ter medo da verdade, porque a verdade é garantia de liberdade. Sintetizando ainda mais: deu-nos novamente a força de crer em Cristo, porque Cristo é o Redentor do homem – Redemptor hominis: foi este o tema da sua primeira Encíclica e o fio condutor de todas as outras.

Karol Wojtyła subiu ao sólio de Pedro trazendo consigo a sua reflexão profunda sobre a confrontação entre o marxismo e o cristianismo, centrada no homem. A sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja, e Cristo é o caminho do homem. Com esta mensagem, que é a grande herança do Concílio Vaticano II e do seu «timoneiro» – o Servo de Deus Papa Paulo VI –, João Paulo II foi o guia do Povo de Deus ao cruzar o limiar do Terceiro Milénio, que ele pôde, justamente graças a Cristo, chamar «limiar da esperança». Na verdade, através do longo caminho de preparação para o Grande Jubileu, ele conferiu ao cristianismo uma renovada orientação para o futuro, o futuro de Deus, que é transcendente relativamente à história, mas incide na história. Aquela carga de esperança que de certo modo fora cedida ao marxismo e à ideologia do progresso, João Paulo II legitimamente reivindicou-a para o cristianismo, restituindo-lhe a fisionomia autêntica da esperança, que se deve viver na história com um espírito de «advento», numa existência pessoal e comunitária orientada para Cristo, plenitude do homem e realização das suas expectativas de justiça e de paz.

Por fim, quero agradecer a Deus também a experiência de colaboração pessoal que me concedeu ter longamente com o Beato Papa João Paulo II. Se antes já tinha tido possibilidades de o conhecer e estimar, desde 1982, quando me chamou a Roma como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, pude durante 23 anos permanecer junto dele crescendo sempre mais a minha veneração pela sua pessoa. O meu serviço foi sustentado pela sua profundidade espiritual, pela riqueza das suas intuições. Sempre me impressionou e edificou o exemplo da sua oração: entranhava-se no encontro com Deus, inclusive no meio das mais variadas incumbências do seu ministério. E, depois, impressionou-me o seu testemunho no sofrimento: pouco a pouco o Senhor foi-o despojando de tudo, mas permaneceu sempre uma «rocha», como Cristo o quis. A sua humildade profunda, enraizada na união íntima com Cristo, permitiu-lhe continuar a guiar a Igreja e a dar ao mundo uma mensagem ainda mais eloquente, justamente no período em que as forças físicas definhavam. Assim, realizou de maneira extraordinária a vocação de todo o sacerdote e bispo: tornar-se um só com aquele Jesus que diariamente recebe e oferece na Igreja.

Feliz és tu, amado Papa João Paulo II, porque acreditaste! Continua do Céu – nós te pedimos – a sustentar a fé do Povo de Deus. Muitas vezes, do Palácio, tu nos abençoaste nesta Praça! Hoje nós te pedimos: Santo Padre, abençoa-nos! Amen.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mensagem do Bispo Eleito de Coimbra à Diocese

Mensagem do Bispo Eleito de Coimbra
SAUDAÇÃO AO POVO DE DEUS DA DIOCESE DE COIMBRA

Santo Padre Bento XVI acaba de me nomear bispo de Coimbra. A Sua Santidade o Papa asseguro a comunhão no ministério e a cooperação fiel em ordem à construção da Igreja de Jesus Cristo, de cuja unidade é o sinal visível, e peço que me confirme na fé católica e apostólica.

Nestas circunstâncias muito especiais, quero dirigir-vos uma saudação fraterna e manifestar a minha plena disponibilidade para ir ao vosso encontro na realização da missão que a Igreja de Deus me confia.

Nesta saudação incluo todos os membros da porção do Povo de Deus, que é a diocese de Coimbra: os presbíteros, diáconos e seminaristas; os religiosos, religiosas e membros de institutos seculares; a grande multidão de leigos de todas as condições.

Dirijo-vos uma palavra especial, a vós, jovens, rapazes e raparigas, cheios de sonhos de uma vida grande e bela, que hoje encontrais tantos obstáculos à vossa realização. Convido-vos a procurar em Cristo, o vosso companheiro de todas as horas, a alegria e a esperança que buscais. Espero encontrar-vos frequentemente e dedicar-vos parte significativa da minha acção pastoral.

Ao senhor D. Albino Cleto e ao senhor D. João Alves envio um forte abraço, sinal da grande admiração pelo testemunho de fé e de amor à Igreja, que têm dado. Reconheço o trabalho que realizaram nos longos anos de ministério e agradeço a amizade que têm manifestado para comigo.

Respeitosamente saúdo as autoridades autárquicas, académicas, civis e militares presentes na área da diocese de Coimbra, augurando a mais frutuosa mútua colaboração. Cumprimento afectuosamente todos os membros das outras Igrejas Cristãs, os que professam outras religiões e todos os homens e mulheres de boa vontade.

Quando penso no convite que a Igreja acaba de me fazer e na aceitação que manifestei, volto sempre às convicções, já remotas, que me fizeram avançar no caminho da vida cristã e da vocação sacerdotal. Recordo que nos anos da juventude me deixei seduzir por Cristo, considerei que Ele era o “tudo” da minha vida e teria em mim o primeiro lugar. Desejei, desde então, estar disponível para servir onde a Igreja precisasse de mim. Procurando ser fiel ao Deus que me amou e que agora me chamou a um novo serviço, consciente das limitações e dificuldades, canto agradecido os seus louvores.

À Igreja de Coimbra une-me uma já longa ligação, desde o tempo em que aí fiz a minha formação teológica, até aos anos mais recentes de docência no Instituto Superior de Estudos Teológicos. Ao olhar para a Igreja que sou chamado a servir, gostaria de vos dizer que, a partir da fé na presença operante do Espírito Santo, vislumbro nela uma imensidão de potencialidades. Temos a graça de viver num tempo de grandes desafios à fé cristã e ao testemunho vivo de todos os membros da Igreja. Vejo diante de nós os desafios da nova evangelização, que nos pedem um novo entusiasmo e um novo fascínio pela pessoa de Jesus Cristo, o Evangelho que acolhemos e anunciamos. Confio no vigor da vossa fé, no vosso amor a Cristo e à sua Igreja; em comunhão uns com os outros e com Deus, podemos dar ao mundo novas sementes de esperança.

Pedi a Deus por mim, para que a minha presença no meio de vós constitua um serviço à fortaleza da vossa fé, um incentivo aos laços de comunhão eclesial.

Aqui, na Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima, confio a Nossa Senhora a vida e o ministério, nesta nova etapa da minha entrega à Igreja. Peço-lhe que interceda por mim e por vós, junto do Deus, Santíssima Trindade, que adoramos.

Santuário de Fátima, 28 de Abril de 2011
P. Virgílio do Nascimento Antunes

terça-feira, 26 de abril de 2011

Homilia de Domingo de Páscoa - 2011

DOMINGO DE PÁSCOA
(24.04.2011)


«Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos» (Jo. 20, 9)


Com esta expressão, retirada do final do Evangelho de hoje, nós somos colocados diante do acontecimento inicialmente ininteligível para os discípulos, em toda a sua profundidade e sentido existencial. Só progressivamente eles vão entendendo o significado da ressurreição, particularmente à medida que fazem a experiência do Ressuscitado.
Mas também nós, hoje, podemos permanecer ainda numa atitude semelhante à experiência inicial dos apóstolos: sem compreender o significado profundo da ressurreição de Jesus e as suas implicações na nossa existência humana e cristã. A experiência do túmulo vazio continua a ser tão inquietante, que coloca uns numa compreensão meramente tradicional de tal acontecimento; e a outros conduz a uma negação, prática ou teórica, de tal possibilidade. Não é raro, mesmo entre cristãos, que a compreensão deste acontecimento fundante da fé cristã se esfume no seu significado profundo, quantas vezes confundido com outras perspectivas de afirmação do sentido da vida e do sentido da morte.
Ora, a experiência de Cristo ressuscitado está no centro da nossa fé de cristãos! Como diz o Papa Bento XVI, na sua obra mais recente Jesus de Nazaré - num comentário à expressão da Carta aos Coríntios, «se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã também a vossa fé» (1 Cor. 15, 14) - «com estas palavras, São Paulo põe drasticamente em relevo a importância que a fé na ressurreição de Jesus tem para a mensagem cristã no seu conjunto: ela é o seu fundamento» . E, neste sentido, continua ainda o Papa: «a fé cristã fica de pé ou cai com a verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dos mortos» .
É com esta preocupação que, por breves instantes, consideraremos a nossa sensibilidade humana ou sociológica da ressurreição, para logo depois afirmarmos os fundamentos para a sua compreensão e consequências na vida da Igreja e de cada cristão.


1. Perspectiva humana /sociológica da Ressurreição.


A afirmação da ressurreição de Cristo é um facto que aprendemos na catequese; que assumimos como adquirido, porquanto afirmado por aquele ou aqueles em que quem reconhecíamos autoridade; ou simplesmente porque sentimos necessidade de dar resposta, ainda que por vezes pouco clarividente, aos limites da nossa necessidade humana, particularmente quando nos confrontamos com as «sombras» da vida, como são a doença e a morte. Todavia, não raro, permanecemos numa atitude de infância espiritual, de mera necessidade, ou de permanente questionamento. Não é raro, ainda, encontrarmos cristãos que, perante a dificuldade da fé na ressurreição, a negam como esperança definitiva para a sua vida humana e plenitude do dom que já nos foi oferecido pelo baptismo. É neste contexto que tomamos, também nós, a mesma expressão de São Paulo, na Carta aos Coríntios: «se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé» (1 Cor. 15, 14). Mas é ainda o apóstolo, de modo determinado, quem contraria tal afirmação, revelando-nos o facto radicalmente novo: «Cristo ressuscitou dos mortos como primícias [o primeiro] dos que morreram» (1 Cor. 15, 20).
E se é certo que vemos ainda como num espelho, e só depois veremos face a face, como afirma São Paulo, a verdade é que o próprio Cristo declarou bem-aventurados os que acreditam sem terem visto (cf. Jo. 20, 29).


2. A Ressurreição como acontecimento fundante.


A ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé, como afirmámos já. E o Catecismo da Igreja Católica diz-nos que «ser testemunha de Cristo é ser “testemunha da sua ressurreição”» (CIC. 995), numa alusão aos Actos dos Apóstolos.
Mas o que é a ressurreição? Detenhamo-nos no pensamento do Papa Bento XVI e com ele compreendamos o mistério que hoje celebramos. Diz-nos o Papa que «a ressurreição de Jesus foi a evasão para um género de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso – uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem. Por isso, a ressurreição de Jesus não é um acontecimento singular que possamos menosprezar e que pertença apenas ao passado, mas sim uma espécie de “mutação decisiva” (expressão equívoca, mas usada aqui analogicamente), um salto de qualidade» . Para logo acrescentar: «na ressurreição de Jesus, foi alcançada uma nova possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos e abre um futuro, um novo género de futuro para os homens» .
Mesmo face à ciência, que não raro tende a negar o facto da ressurreição, o Papa responde com esta admirável clarividência: «naturalmente que não pode haver contradição com aquilo que constitui um claro dado científico. É certo que, nos testemunhos sobre a ressurreição, se fala de algo que não ocorre no mundo da nossa experiência. Fala-se de algo novo que, até então, era único: fala-se de uma nova dimensão da realidade que se manifesta» .
O acontecimento da ressurreição, para além da experiência íntima (a via mística) a que tantos chegaram, provem-nos essencialmente pelo testemunho apostólico. De modo particular os Actos dos Apóstolos e as cartas do Novo Testamento patenteiam-nos este testemunho singular. Mas é ainda o Papa Bento XVI quem nos ajuda a clarificar algumas impressões do encontro dos discípulos com o Ressuscitado, permitindo-nos perceber quem Ele é e qual a natureza desse encontro. Diz-nos o Papa que Jesus não é alguém que voltou à vida biológica normal e que depois teve de morrer novamente; tão pouco é um fantasma (um «espírito»), ou seja, alguém que pertencendo ao mundo dos mortos se manifesta no mundo dos vivos; de igual modo, a experiência do ressuscitado não se confunde com as experiências místicas, marcadas por «uma superação momentânea do âmbito da alma e das suas faculdades de percepção» . «A ressurreição – diz o Papa - é um acontecimento dentro da história, que, todavia, rompe o âmbito da história e a ultrapassa. (…) Sem dúvida, a própria matéria é transformada num novo género de realidade. Agora, o Homem Jesus, precisamente com o seu próprio corpo, pertence totalmente á esfera do divino, do eterno» .
É este mistério que celebramos em Cristo – a Sua ressurreição e a nossa ressurreição n’Ele. Pois, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, «Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia» (CIC. 989).


3. Viver como Ressuscitados.


Mas a nossa esperança não é apenas para o futuro; é também já para o presente; sabendo que, «regenerados pelo baptismo», fomos tornados membros de Cristo (cf. CIC. 1213). Ora, é aqui que se insere o convite de Paulo, na segunda leitura de hoje: «se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo se encontra, sentado à direita de Deus» (Col. 3, 1). Isto não significa a evasão da vida e da história. Significa, isso sim, que sabendo qual a esperança a que estamos chamados, dela vivemos já pela prática da caridade. E é o amor, que nos configura com Cristo ressuscitado, que nos torna seus discípulos e nos faz trilhar o mesmo caminho de vida eterna. Vida essa que será o definitivo para além da história de cada um de nós; que suplanta todo o material e perecível, como bem refere J. H. Newman, com quem queremos terminar: «Ó Cristo ressuscitado! Também nós temos que ressuscitar contigo; Tu escondes-Te à vista dos homens e nós temos que seguir-Te; regressaste para o Pai e temos que procurar que a nossa vida «esteja escondida contigo em Deus»… É obrigação e privilégio de todos os discípulos, Senhor, ser elevados e transfigurados contigo; é privilégio nosso viver no céu com os nossos pensamentos, aspirações, desejos e afectos, ainda que permanecendo na carne… Ensina-nos a «aspirar às coisas do alto» (Col. 3, 1), demonstrando assim que Te pertencemos, que o nosso coração ressuscitou contigo e em ti está escondida a nossa vida».