Aqui fica um artigo muito interessante, do Senhor D. Maurílio Gouveia, sobre a teologia do laicado. Vale a pena reflectir.
«Gosto de recordar as comunidades cristãs primitivas, tal como são referidas nos escritos neotestamentários e nos documentos posteriores dos primeiros séculos: comunidade de Jerusalém, - a primeira de todas -, de Antioquia, de Filipos, de Éfeso, de Roma, de Alexandria e outras.
Os seus membros eram conhecidos simplesmente como “cristãos” (Act 12,26). Alguns assumiam determinados ministérios ou serviços: eram os bispos, os presbíteros e os diáconos. Outros ainda, sem funções hierárquicas, eram chamados a realizar tarefas no campo da liturgia, do ensino e do serviço aos irmãos. S. Agostinho viria a escrever mais tarde uma frase que se tornou célebre e que traduzia bem o espírito generalizado na época: “convosco sou cristão, para vós sou bispo”.
A grande maioria, porém, ou, antes, a quase totalidade era constituída pelos cristãos que viviam a sua fé na vida quotidiana: na esfera familiar, no sector do trabalho e na vida social. Eram o que hoje chamamos os “leigos”.
Todos os membros da comunidade tinham um traço comum: apresentavam-se como discípulos de Jesus Cristo; viviam num clima de fraternidade; participavam na Eucaristia dominical, no ensino da mensagem cristã e na ajuda mútua.
Se quisermos perceber bem o que significa ser leigo, é bom recordar esses tempos primordiais do cristianismo. O testemunho, por vezes heróico, dos cristãos leigos, ao lado, obviamente, dos bispos e dos presbíteros, foi determinante para o rápido e espectacular crescimento da Igreja.
Não desconhecemos os aspectos negativos que sempre existiram, desde a primeira hora, nas comunidades, as suas fragilidades, os seus pecados e escândalos; mas uma coisa é certa: os cristãos representavam uma força espiritual e moral, uma novidade de vida, capaz de atrair as pessoas e transformar as sociedades a partir dos alicerces.
Devemos acrescentar no panorama da Igreja das origens uma outra realidade que pouco a pouco foi surgindo e crescendo. Referimo-nos àqueles cristãos e cristãs que se sentiam interpelados por Deus a seguir outras formas de vivência da fé, na oração, na contemplação, na penitência, quer na linha eremítica, quer na linha cenobítica ou de comunidade religiosa.
A Igreja cresceu e estendeu os seus ramos a todo o mundo, para usar a imagem da parábola evangélica. Cada época revelou novas virtualidades e obrigou a constantes renovações.
No que se refere ao tema que nos ocupa, o papel dos leigos, importa sublinhar que, no decorrer dos séculos, sobretudo a partir da Idade Média, assistir-se-á a um acentuado relevo atribuído ao lugar da hierarquia e dos religiosos no seio da Igreja, ficando os leigos numa situação teologicamente pouco definida e sem o pleno reconhecimento da sua missão eclesial. Isto não quer dizer que não tenham existido sempre leigos e leigas verdadeiramente exemplares, bem como notáveis formas associativas do laicado, de que são exemplo as confrarias, as ordens, as irmandades.
Coube, porém, ao século XX assistir à redescoberta do laicado como parte essencial do Povo de Deus, juntamente com os sectores hierárquico e religioso. Para isso, muito contribuiu a Acção Católica e outros movimentos e associações laicais, e o progresso da teologia dos leigos, como componente da eclesiologia.
O Concílio Vaticano II viria a representar o momento alto desta acção do Espírito Santo, deixando-nos uma doutrina clara, solidamente fundamentada e fecunda sobre os leigos. Esta doutrina encontra-se, antes de mais, na constituição dogmática Lúmen Gentium, a que se deve ajuntar o decreto Apostolicam Actuositatem. É numa perspectiva global da Igreja como Mistério e como Povo de Deus que se definem a natureza e a missão dos leigos. O documento depois de apresentar a Igreja como Povo de Deus a que todos os cristãos pertencem pelo baptismo, dedica um capítulo a cada uma das suas componentes: a hierarquia, os leigos e os religiosos. Todos formam uma única Igreja. Esta é a sua imagem verdadeira, tanto na sua dimensão universal, como nas suas dimensões mais restritas da diocese ou da paróquia.
O reconhecimento teórico e prático da vocação dos leigos, a sua cuidada formação integral, a sua inserção na vida das comunidades, e, acima de tudo, como traço específico e distintivo, o seu empenhamento de cristãos na vida familiar, social, económica, cultural e política constituem tarefa inalienável deste tempo histórico da Igreja. Aos passos já dados nesse sentido, é urgente dar novos e corajosos passos, como recomendava o Papa Bento XVI à Igreja em Portugal, através dos seus Bispos, durante a última visita ad limina.
Os seus membros eram conhecidos simplesmente como “cristãos” (Act 12,26). Alguns assumiam determinados ministérios ou serviços: eram os bispos, os presbíteros e os diáconos. Outros ainda, sem funções hierárquicas, eram chamados a realizar tarefas no campo da liturgia, do ensino e do serviço aos irmãos. S. Agostinho viria a escrever mais tarde uma frase que se tornou célebre e que traduzia bem o espírito generalizado na época: “convosco sou cristão, para vós sou bispo”.
A grande maioria, porém, ou, antes, a quase totalidade era constituída pelos cristãos que viviam a sua fé na vida quotidiana: na esfera familiar, no sector do trabalho e na vida social. Eram o que hoje chamamos os “leigos”.
Todos os membros da comunidade tinham um traço comum: apresentavam-se como discípulos de Jesus Cristo; viviam num clima de fraternidade; participavam na Eucaristia dominical, no ensino da mensagem cristã e na ajuda mútua.
Se quisermos perceber bem o que significa ser leigo, é bom recordar esses tempos primordiais do cristianismo. O testemunho, por vezes heróico, dos cristãos leigos, ao lado, obviamente, dos bispos e dos presbíteros, foi determinante para o rápido e espectacular crescimento da Igreja.
Não desconhecemos os aspectos negativos que sempre existiram, desde a primeira hora, nas comunidades, as suas fragilidades, os seus pecados e escândalos; mas uma coisa é certa: os cristãos representavam uma força espiritual e moral, uma novidade de vida, capaz de atrair as pessoas e transformar as sociedades a partir dos alicerces.
Devemos acrescentar no panorama da Igreja das origens uma outra realidade que pouco a pouco foi surgindo e crescendo. Referimo-nos àqueles cristãos e cristãs que se sentiam interpelados por Deus a seguir outras formas de vivência da fé, na oração, na contemplação, na penitência, quer na linha eremítica, quer na linha cenobítica ou de comunidade religiosa.
A Igreja cresceu e estendeu os seus ramos a todo o mundo, para usar a imagem da parábola evangélica. Cada época revelou novas virtualidades e obrigou a constantes renovações.
No que se refere ao tema que nos ocupa, o papel dos leigos, importa sublinhar que, no decorrer dos séculos, sobretudo a partir da Idade Média, assistir-se-á a um acentuado relevo atribuído ao lugar da hierarquia e dos religiosos no seio da Igreja, ficando os leigos numa situação teologicamente pouco definida e sem o pleno reconhecimento da sua missão eclesial. Isto não quer dizer que não tenham existido sempre leigos e leigas verdadeiramente exemplares, bem como notáveis formas associativas do laicado, de que são exemplo as confrarias, as ordens, as irmandades.
Coube, porém, ao século XX assistir à redescoberta do laicado como parte essencial do Povo de Deus, juntamente com os sectores hierárquico e religioso. Para isso, muito contribuiu a Acção Católica e outros movimentos e associações laicais, e o progresso da teologia dos leigos, como componente da eclesiologia.
O Concílio Vaticano II viria a representar o momento alto desta acção do Espírito Santo, deixando-nos uma doutrina clara, solidamente fundamentada e fecunda sobre os leigos. Esta doutrina encontra-se, antes de mais, na constituição dogmática Lúmen Gentium, a que se deve ajuntar o decreto Apostolicam Actuositatem. É numa perspectiva global da Igreja como Mistério e como Povo de Deus que se definem a natureza e a missão dos leigos. O documento depois de apresentar a Igreja como Povo de Deus a que todos os cristãos pertencem pelo baptismo, dedica um capítulo a cada uma das suas componentes: a hierarquia, os leigos e os religiosos. Todos formam uma única Igreja. Esta é a sua imagem verdadeira, tanto na sua dimensão universal, como nas suas dimensões mais restritas da diocese ou da paróquia.
O reconhecimento teórico e prático da vocação dos leigos, a sua cuidada formação integral, a sua inserção na vida das comunidades, e, acima de tudo, como traço específico e distintivo, o seu empenhamento de cristãos na vida familiar, social, económica, cultural e política constituem tarefa inalienável deste tempo histórico da Igreja. Aos passos já dados nesse sentido, é urgente dar novos e corajosos passos, como recomendava o Papa Bento XVI à Igreja em Portugal, através dos seus Bispos, durante a última visita ad limina.
+ Maurílio de Gouveia,
Arcebispo Emérito de Évora
Arcebispo Emérito de Évora
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