quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Programa Pastoral 2008 / 2009

Paróquias de Luso
E Pampilhosa


PROGRAMA PASTORAL
2008 / 2009


“Tende entre vós os mesmos sentimentos de quem está em Cristo Jesus” (Fl. 2, 5)

Introdução

O Programa Pastoral que ora se apresenta tem como objectivo definir algumas acções a desenvolver ao longo do presente Ano Pastoral, nas Paróquias de Luso e Pampilhosa. Não pretende, de modo algum, ser exaustivo; estando aberto a posteriores sugestões de acção, que se entenderem necessárias ou pertinentes para este ano pastoral. Além disso, o presente Programa será sujeito à apreciação dos Conselhos Pastorais, ou quem faz as suas vezes, particularmente na Pampilhosa.
Propõe-se como lema, para o Ano Pastoral, a expressão de São Paulo, na carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos sentimentos de quem está em Cristo Jesus»[1]. Este convite encerra duas atitudes: a vivência da caridade e a humildade no serviço. Na verdade, São Paulo convida-nos à mesma «caridade», à mesma «harmonia», procurando cada um trabalhar não em proveito pessoal, por vaidade ou egoísmo, mas sim procurando o interesse de todos. Prouvera a Deus que consigamos este desígnio e o saibamos assumir na vivência comunitária.


1. Análise da realidade Pastoral

1.1. Um mundo em mudança.

Vivemos num mundo marcado por uma mudança célere: mudança de paradigmas sociais, institucionais e, particularmente, mentais. O momento actual, que os pensadores chamam de pós-modernidade, caracteriza-se, no dizer de Lipovetsky, por uma cultura em que são exacerbadas algumas características, como o individualismo, o consumismo e uma ética hedonista.[2] A cultura hodierna, particularmente dos mais novos, não se baseia já nos princípios definidos pelos quadros mentais que até aqui orientaram a nossa vivência pessoal, familiar e social. Efectivamente, as mudanças sociais e mentais são um desafio à nossa capacidade de escuta, de acolhimento e de diálogo. Mas, precisamente porque esvaziadas de algumas dimensões essenciais à realização da pessoa humana, também elas são um desafio claro à nossa capacidade de testemunho dos valores que assumimos como norteadores das nossas vivências pessoais e comunitárias.
De um modo especial, neste «tempo novo», temos de saber adaptar as nossas linguagens e espaços de reflexão, de modo a estabelecer um profícuo encontro com o outro a quem nos queremos dirigir, procurando-o noutras fronteiras que não apenas as dos nosso espaços paroquiais ou celebrativos.

1.2. Uma Igreja assente no princípio da manutenção de serviços.

Muito facilmente satisfazemo-nos, nós cristãos, com a oferta dos serviços habitualmente pedidos à comunidade – catequese, liturgia e alguma acção de assistência. As nossas comunidades são ainda hoje espaços preferencialmente de «espera», mais do que de «procura». Como refere o Plano Diocesano de Pastoral, para o próximo triénio, criamos uma tendência para «uma pastoral de recuperação, um esforço de manutenção», uma «ambição centrada em nós próprios, na comunidade que somos»[3], em vez de uma verdadeira acção evangelizadora.

1.3. A urgência da Missão.

É urgente que mudemos de atitude e que nos abramos à missão primeira da Igreja: Evangelizar! É neste sentido que Jesus Cristo nos interpela, ao afirmar hoje, como ontem: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura” (Mc. 16, 15).
Esta acção missionária não é apenas um mandato dado a alguns, mas sim a todos nós; não apenas para o anúncio nos espaços longínquos, mas naqueles que constituem o lugar do nosso viver e agir – o espaço das nossas vivências e relações interpessoais. Hoje, os grandes centros a evangelizar são aqueles que constituem os espaços das nossas comunidades.
É também neste sentido que nos orienta o novo Plano Diocesano de Pastoral, quando afirma: «o quadro de uma Igreja aberta ao mundo é o horizonte do nosso Plano Pastoral»; ou ainda, «cada baptizado deve ser a continuação e encarnação de Jesus Salvador junto dos seus irmãos».[4]
Neste sentido, a nível local, e em sintonia com toda a Diocese, havemos de fazer as opções que melhor respondam às verdadeiras necessidades das nossas comunidades. E primeira delas é mesmo a reenvangelização daqueles que nunca chegaram a ser verdadeiramente evangelizados, ou daqueles que desconhecem o Evangelho libertador de Jesus Cristo. Esta é tarefa cimeira que se propõe a cada um de nós, conscientes de que «não é verdadeiramente cristão quem não for apóstolo»[5], como refere também o mesmo Plano Diocesano.
Além do que fica exposto, teremos todos de assumir a consciência clara de que a missão da Igreja é tarefa de todos, cada um segundo a sua parte. A participação na missão da Igreja não depende de uma simples escolha ou aceitação dos seus pastores, mas deriva, sim, de uma comum condição de baptizados. Mais ainda: havemos de suplantar uma visão clericalizada da missão da Igreja. O padre exercerá o seu ministério em articulação com todos os outros ministérios ordenados e laicais. Tanto mais que não existe hoje para cada comunidade um padre disponível. Mas mesmo que houvesse, a Igreja só brilhará como verdadeira comunidade quando cada um assumir a missão a que é chamado pelo mesmo e único baptismo.

2. Igreja, Comunhão Ministerial

A Igreja é, primeiramente, um grande mistério de comunhão. Partindo da comunhão trinitária, onde se descobre, é comunhão de irmãos numa mesma caridade. É comunhão na linha da expressão de São Paulo, que tomamos como lema para este ano: «tende entre vós os mesmos sentimentos de quem está em Cristo Jesus» (Fl. 2, 5). É comunhão na medida em que, sendo um só corpo, é convidada a partilhar dons e bens, de modo a que o serviço e a atenção mútua de irmãos entre si se tornem uma realidade.[6]
Mas é também comunhão na missão. Isto é, comunhão ministerial! Neste sentido, «o Espírito derramado sobre todos os cristãos no sacramento do baptismo, suscita diferentes estados de vida, múltiplas formas de serviço, diversas maneiras de realizar a comum pertença á Igreja».[7] Todos somos chamados a realizar a mesma e única missão da Igreja, cada um na parte que lhe pertence, segundo a sua própria vocação.
Ao sacerdote caberá, à imagem do Bom Pastor, apascentar o rebanho, anunciando a Palavra de Deus, dispensando a sua graça, mediante os sacramentos e cuidando de todos com verdadeira solicitude pastoral. Cabe-lhe ainda governar a Igreja, em comunhão íntima com o Pastor Diocesano, de modo a que a sua missão expresse a única missão de toda a Igreja de que ele, localmente, se tornará primeiro responsável.
Aos leigos pertence, primeiramente, uma missão secular: inseridos nas realidades temporais, ou terrenas, são chamados a construir aí o Reino de Deus, mediante o testemunho da sua fé no mundo diverso da família, do trabalho, das realidades sociais, políticas, económicas ou culturais. (cf. AA. 7).
Mas essa missão secular não exclui a corresponsabilidade em toda a missão da Igreja. Bem pelo contrário: pela sua vocação própria, são chamados a participar em toda a vida da comunidade, seja na sua missão evangelizadora, litúrgica, da caridade ou ainda da administração.
Sem dúvida, que ambos os planos se hão-de articular: num primeiro momento, havemos de assumir o grande desígnio do Plano Diocesano de Pastoral para o próximo triénio: «Ajudar todo o cristão a sentir que a prática da sua fé e o seu amor a Cristo exigem que ele seja um apóstolo»[8] no meio do mundo; mas igualmente, levar a que cada um, segundo os seus carismas, sirva a sua comunidade, de modo a que ela realize integralmente toda a missão da Igreja.
Necessitamos, assim, de incrementar uma maior disponibilidade de todos para os diversos ministérios e serviços de que a comunidade paroquial necessita. Só neste sentido teremos comunidades mais participadas, dinâmicas e empenhadas.
Como forma de assumir conjuntamente a missão iremos valorizar ou renovar os Conselhos Pastorais, os Conselhos Económicos e os diversos Secretariados ou Serviços de Coordenação (Catequese, Liturgia, Acção Sócio-Caritativa, Movimentos, etc.)

3. Propostas da Igreja para este ano

3.1. Igreja Universal

A nível global, a Igreja propõe-nos, para este ano, a vivência do Ano Paulino, na celebração dos dois mil anos do nascimento de São Paulo. Essencialmente, o convite é o de caminharmos com São Paulo no seu ardor de entrega a Cristo e à missão evangelizadora. Para tal, propõe-se a caminhada definida pela Conferência Episcopal Portuguesa, particularmente a publicação Um Ano a Caminhar com São Paulo. Bom seria que a grande maioria dos cristãos aproveitasse este conjunto de catequeses para caminhar em grupos (maiores ou menores; já constituídos ou espontâneos), em família, em grupos de famílias, ou mesmo numa caminhada pessoal. Daremos destaque às catequeses Paulinas nos tempos litúrgicos que antecedem as grandes festas, como são o Advento e a Quaresma. Bem gostaria que as publicações a elaborar para estes tempos contemplassem, neste ano, muito destas catequeses Paulinas.
Mas não ficaremos só por aqui: a Diocese irá, por certo, promover outras actividades a que nos associaremos. De um modo especial, propomos aqui um conjunto de conferências sobre São Paulo que irão decorrer no Instituto Universitário Justiça e Paz, sobre vários temas ligados ao ano Paulino.
Várias são as publicações que têm vindo a lume sobre a pessoa e missão de Paulo. Bom seria que no espaço das comunidades encontrássemos meios de partilha sobre leituras feitas e propostas de leitura a fazer.

3.2. Igreja Diocesana

Para este Ano Pastoral, a Diocese propõe-nos como grande objectivo: «dar prioridade à formação de leigos, uma formação em ordem à acção, o que supõe fazermos neste primeiro ano uma procura e os necessários contactos com leigos que se nos revelem bons militantes, capazes de contactar e trazer outros»[9], tendo em atenção as seguintes áreas: Catequese (de infância e adultos), família, jovens e vocações.[10]
Esforçar-nos-emos, por certo, em corresponder a este grande objectivo, responsabilizando alguns leigos por estas diversas áreas, esperando, posteriormente, as sugestões de formação a nível diocesano.

3.3. Propostas de âmbito Paroquial

A nível paroquial, o pároco propõe que se dê destaque às seguintes áreas: órgãos de corresponsabilidade, na linha dos já enunciados (Conselhos Pastorais e Económicos; Secretariados); Catequese (de infância e de adultos); e Família. Como elemento transversal, a dinamização vocacional.
O trabalho dos Conselhos necessita de continuar a ser incrementado. Assim, os Conselhos Pastorais deverão assumir a sua missão específica como órgãos de corresponsabilidade. No Luso há que incrementar a sua a acção; na Pampilhosa, iremos proceder à sua reorganização.
Os Conselhos Económicos irão prosseguir o seu trabalho, uma vez que o seu funcionamento satisfaz às necessidades das Comunidades Paroquiais.
Ao nível da Catequese, teremos como preocupação uma maior corresponsabilidade na acção evangelizadora, uma preocupação acrescida na formação de catequistas e uma maior responsabilização dos Secretariados Paroquiais. Além disto, como nos propõe o Plano Diocesano de Pastoral, teremos de cultivar uma particular solicitude no sentido de chamar para o conhecimento e a vivência do Evangelho crianças e jovens que já não vêem trazidos pela família»[11].
Na Catequese de Adultos, procuraremos definir uma caminhada sistemática a propor às Comunidades e seleccionaremos animadores leigos que possam orientar esta formação. Na Pampilhosa continuaremos o trabalho já em curso e no Luso procuraremos criar as bases necessárias para a dinamização deste serviço evangelizador.
Ao nível da Família, na linha das primeiras reuniões já realizadas, procuraremos dar continuidade à formação da equipa já «parcialmente» formada, investindo, posteriormente, em três áreas de acção: preparação para o matrimónio, preparação para o baptismo (correspondendo estas reuniões aos primeiros encontros com os casais) e acompanhamento local destes casais mais novos.
A pastoral vocacional deverá estar presente em todas as dimensões da vida paroquial: catequese, acção juvenil, dinamização de grupos de acólitos, grupos de oração, grupos corais, escuteiros, movimentos, etc. Este tem de ser um empenhamento contínuo e constante de todos os organismos, serviços e acções comunitárias.

A dinamização da Catequese, como já iniciado, pese embora a acção própria dos Secretariados Paroquiais, terá uma dinâmica cada vez mais interparoquial.

A Pastoral familiar terá uma dinâmica arciprestal ou, na sua impossibilidade, também ela interparoquial. A participação para o baptismo faz-se já a nível arciprestal. Para aí deverá tender também a preparação para o matrimónio. O serviço de acompanhamento de casais poderá fazer-se a nível paroquial ou interparoquial, de acordo com os moldes de trabalho a definir pela equipa já formada.

A passos largos temos de avançar para um trabalho de coordenação arciprestal. Mesmo que ele não venha a acontecer no curto prazo, impor-se-á a médio prazo. Em tudo procuraremos criar a disponibilidade e orientarmo-nos nesse sentido, sem se descurar os legítimos âmbitos de intervenção paroquial.

A Pastoral Juvenil continuará com a sua dinâmica própria, seja no Luso, com a AJCL, seja na Pampilhosa, com os Escuteiros, a J.OC. e o grupo de Jovens M.U.R.F. Todavia, de acordo com as necessidades destes grupos, inserir-se-ão neste programa os objectivos que entenderem definir para este ano. Todos nós, comunidade cristã, cuidaremos de apoiar quanto nos for possível a dinâmica da Pastoral Juvenil nas nossas paróquias.

A acção Sócio-Caritativa continuará, igualmente, o seu trabalho específico. No Luso, continuará na linha do trabalho realizado até agora, sempre atenta às novas necessidades com que nos deparamos. Na Pampilhosa, o grupo está já em formação, processo em que irá continuar, fazendo, ao mesmo tempo, o levantamento das realidades mais prementes, a exigirem resposta no seio da comunidade paroquial. Convém recordar que este serviço não é exclusivo destes grupos. Eles existem para dinamizar a partilha e colaboração de toda a comunidade na resposta às situações de pobreza ou qualquer outra forma de carência que existam nas nossas comunidades.

4. Organização / Dinamização dos diversos serviços Comunitários

Na linha do que já foi referido, continuaremos a dinamizar os seguintes serviços paroquiais, procurando responsabilizar alguns leigos em cada área de acção:

. Secretariados de Catequese
. Secretariados / Coordenação da Liturgia (Ministérios, Cantores,
leitores)
. Animação e coordenação dos Grupos de Acção Sócio-Caritativa.
. Animação e coordenação da pastoral Familiar.
. Animação e coordenação da pastoral Juvenil.

. Movimentos


CONCLUSÃO:

O facto de nos centrarmos essencialmente na organização paroquial não deve entender-se como contradição do que se afirmou inicialmente. A paróquia deve surgir como comunidade organizada, dinâmica e servidora, mas nunca fechada sobre si mesma. A Igreja existe para o mundo; existe para ser enviada. Em todas as acções paroquiais, devemos procurar equacionar este objectivo primeiro: como Evangelizar hoje aqueles que convivem connosco no dia a dia? As estruturas paroquiais tão pouco se devem entender como dirigidas exclusivamente aos que já participam na vivência comunitária. Devemos ir ao encontro, convidar e acolher todos aqueles que queiram escutar, celebrar e viver o grande dom de Deus - o Seu Amor. Neste sentido, as estruturas paroquiais assumem uma dinâmica de serviço a todos e não apenas àqueles que nela habitualmente se reúnem.

Que a Virgem Mãe, que tão bem cantou a misericórdia de Deus no seu Magnificat, ao afirmar: «A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem» (Lc. 1, 50), nos ensine a cantar a mesma alegria de nos sentirmos chamados para a Missão que o Seu Filho – o Verbo da Vida – coloca nas nossas mãos, nos nossos lábios e, essencialmente, nas nossas acções, constituindo-nos testemunhas do Seu Nome.

Pampilhosa, 04 de Outubro de 2008


Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho

Pároco de Luso e Pampilhosa



[1] Cf. OLIVEIRA, D. Anacleto de, Um Ano a Caminhar com São Paulo, Coimbra, Gráfica de Coimbra 2, 2008. pp. 132 – 134 (Tema 39).
[2] Cf. Lipovetsky, Voc. Pós-modernidade in www.wikipedia.org
[3] DIOCESE DE COIMBRA, Plano Diocesano de Pastoral 2008 – 2011, p. 3.
[4] DIOCESE DE COIMBRA, Plano Diocesano de Pastoral 2008 – 2011, p. 3.
[5] Ibidem, p. 3.
[6]Cf. INSTITUTO NACIONAL DE TEOLOGIA À DISTÂNCIA, Igreja e Sacramentos – Mensagem Cristã III, Madrid, 2000, p. 25.
[7] INSTITUTO NACIONAL DE TEOLOGIA À DISTÂNCIA, o.c., p. 34.
[8] DIOCESE DE COIMBRA, Plano Diocesano de Pastoral 2008 – 2011, p. 4.
[9] Circular do Bispo Diocesano dirigidas aos Sacerdotes da Diocese de Coimbra, datada de 15 de Junho de 2008.
[10] Ibidem.
[11] DIOCESE DE COIMBRA, Plano Diocesano de Pastoral 2008 – 2011, p. 5.

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